Pesquisar canções e/ou artistas

18 agosto 2024

A guerra invisível de Oswald de Andrade


A GUERRA INVISÍVEL DE OSWALD DE ANDRADE é um livro notável. A sensibilidade com que Mariano Marovatto reconstrói as intempéries vividas pelo controverso modernista dá conta de traduzir em perfil ensaístico aquilo que de mais complexo há na obra e na vida de Oswald: seu impulso de universalização da arte brasileira com foco na nossa distintiva "antropofagia", e no "tropicalismo literário", como registrou Roger Bastide, e no "tumultuoso aglomerado de raças", nas palavras do próprio Oswald. Isso porque Mariano apresenta um Oswald com olhos e ouvidos livres, mesmo que por vezes, devido ao contexto crítico de guerra, assombrado com os encaminhamentos de ideias e ideais de "progresso". "Oswald escrevia na mesma velocidade em que o mundo girava. Convencia-se de que, ao experimentar o Zeitgeist, pudesse talvez mudar o curso dos acontecimentos", escreve Marovatto. A GUERRA INVISÍVEL DE OSWALD DE ANDRADE é resultado de pesquisa, levantamento de dados e, repito, sensibilidade, naquilo que o momento ainda hoje guarda de difuso e pouco conhecido: a viagem de Oswald e Julieta Barbara a Europa e a urgência de retorno ao Brasil na eclosão do nazismo. Mariano defende que essa viagem frustrada (esse trauma) repercutiria para sempre (como um totem) nas intuições e perspectivas críticas oswaldianas. "Levando em consideração que a autoficcionalização de sua biografia foi notável e constante", Marovatto lança luz sobre esse transe do autor de Marco zero que, defendendo a autonomia cultural e social brasileira, afirmara: "as catacumbas líricas ou se esgotam ou desembocam nas catacumbas políticas".

Nenhum comentário: