Pesquisar canções e/ou artistas

29 outubro 2013

O que é canção? Marcia Castro

Marcia Castro

- O que é canção para você? 
Pra mim, canção é um tipo de composição musical popular destinada ao canto e cujos elementos evocam esse canto, a partir do momento que criam uma espécie de reconhecimento no interlocutor.

- De onde vem a canção? 
A canção vem da necessidade de comunicar de modo abrangente sentimentos nossos que são comuns a várias pessoas, daí o seu caráter popular.

- Para que cantar? 
Cantar para existir no mundo, com nossas sensações, nossos pertencimentos e desencaixes, de modo que encontremos os interlocutores que tenham afinidade com o nosso universo e criem reverberações. Música é um modo de existir.

- Cite 3 artistas que são referências para o seu trabalho. Por que estes? 
GILBERTO GIL: por traduzir em canção, de modo tão singelo, sentimentos tão complexos, tão incomuns. E ainda trazendo para sua música uma experiência de corpo, chegando de modo certeiro nas diversas subjetividades. TOM ZÉ: pelo experimentalismo constante em sua obra, filosofando a vida através da música. GAL COSTA: pelo canto. a voz fluida, o timbre perfeito, as divisões rítmicas complexas e intuitivas. um lugar a se chegar.

22 outubro 2013

O que é canção? Alice Caymmi

Alice Caymmi

- O que é canção para você? 
É emoção em forma de vibrações que modificam a matéria atingida.

- De onde vem a canção? 
Do inconsciente.

- Para que cantar? 
Para poder sobreviver.

- Cite 3 artistas que são referências para o seu trabalho. 
Bjork, Caetano, Dorival Caymmi.

17 outubro 2013

Duas de cinco

"Ela conta uma epopeia sem Ulisses", afirma Criolo ao comentar o seu rap "Duas de cinco" (2013), em entrevista à revista Rolling Stone (out/2013). De fato, intercalando o uso da primeira pessoa - "E eu fico aqui pregando a paz / E a cada maço de cigarro fumado / A morte faz um jazz" - e da segunda pessoa do discurso - "Desigualdade faz tristeza / Na montanha dos sete abutres / Alguém enfeita sua mesa", Criolo faz o sujeito da letra deslizar de uma posição à outra misturando o juízo de valor que define e separa "culpados" e "inocentes".
Ou seja, aqui não há um Ulisses, ou mesmo um "João de Santo Cristo" (Legião Urbana), para ficarmos na clave de referências das epopeias cancionais, em busca de redenção. Há um sujeito impregnado de "realidade". Em "Duas de cinco" o sujeito não é narrador de algo externo a ele, é sujeito comum, qualquer um, alguém que vivencia os fatos fractalmente narrados, sem a homérica intenção de heroísmo. Ou, melhor, que faz da narração dos fatos uma vivência concreta da verdade.
A letra do rap de Criolo, que tem no sampler da canção "Califórnia azul", de Rodrigo Campos, a âncora melódica exata na composição da beleza crua, é um complexo tecido composto por uma enxurrada de informações dignas de vários nós na orelha do ouvinte: do jobiniano "É o cão / É o cânhamo / É o desamor / É o canhão / Na boca de quem tanto se humilhou", passando pela ressemantização da citação drummondiana "(...) no meio do caminho / Da educação havia uma pedra / E havia uma pedra / No meio do caminho", até o núcleo "Alô Foucault, / Cê quer saber o que é loucura? / É ver Hobsbawm na mão dos boy / Maquiavel nessa leitura", com o seu ensurdeceddor imbricamento de referências filosófico-literárias.
Se a melodia cancional de "Duas de cinco" fica por conta do uso do refrão de "Califórnia azul", no mais, o que temos é um rap-rap: canto/falado, fala/cantada, versos declamados. Sampleando "Compro uma pistola do vapor / Visto o jaco califórnia azul / Faço uma mandinga pro terror / E vou", Criolo fortalece este sujeito que precisa seguir narrando em meio ao caos, à injustiça e ao desamor. Faz isso listando uma sequência de gestos quase cinematográficos que registram o mundo ao redor: lírica e sociedade.
A estonteante profusão de citações e referências da cultura pop, de consumo, da literatura, da filosofia, do cotidiano, que, a princípio pode sugerir uma vontade vazia de demonstrar erudição, não é gratuita, ela serve à criação dos sons e ruídos deste mundo complexo do "tudo-ao-mesmo-tempo-agora" que vivemos. 
"O poeta, enquanto contemporâneo, é essa fratura, é aquilo que impede o tempo de compor-se e, ao mesmo tempo, o sangue que deve suturar a quebra", escreve Giorgio Agamben (O que é o contemporâneo?). Sujeito atento aos sinais de seu tempo, Criolo tece a letra como o indivíduo contemporâneo que precisa pensar - organizar o pensamento - para além do turbilhão de informações on line, on time, full time. Como de-cifrar tantas informações e experimentá-las na vida de modo ético? É este o mote do tratado que Criolo rascunha em "Duas de cinco".
Tendo de lidar com a inveja (o zoião cantado por Emicida), a ronda constante das drogas e da violência e a repulsa da burguesia glamourosa (ou da "burguesinha" cantada por Seu Jorge: "É salto alto, MD / Absolut, suco de fruta / Mas nem todo mundo é feliz / Nessa fé absoluta"), o sujeito de Criolo elabora um projeto de sobrevivência no inferno. "O rosto do carvoeiro / É o Brasil que mostra a cara", canta. Mas aponta que: "Pra cada rap escrito / Uma alma que se salva".
É esta vontade de salvar a alma cantando, fazendo rap, apontando o dedo refrator para as feridas sociais, de um governo "que quer acabar com o crack / Mas não tem moral para vetar / Comercial de cerveja" o mote do trabalho de Criolo. Colocar-se no meio, estar aberto à mediação, "pregando a paz" através do uso desta "língua piranha" para, denunciando os encastelados que sorriem diante da morte de "um de nós", reposicionar esta legião, este "nós" sempre vítima do silêncio sorridente da sociedade.
"Falar pra um favelado / Que a vida não é dura / E achar que teu 12 de condomínio / Não carrega a mesma culpa", vocaliza. Em tempos de "política do medo", quando o indivíduo é levado a crer que mais segurança implica em mais individualismo e investimento nas instâncias-ilha, Criolo investe naquilo que Tom Zé fala sobre a sabedoria (ciência) popular reprimida, que desceu do hipotálamo-aristotélico e foi parar no cóccix alimentando a cóccix-ência de quem precisa devorar tudo que lhe chega como informação para não ser devorado.

***

(Criolo)

É o cão
É o cânhamo
É o desamor
É o canhão 
Na boca de quem tanto se humilhou

Inveja é um desgraça
Alastra de rancor
E cocaína é uma igreja
Gringa de le chereau

Pra cada rap escrito
Uma alma que se salva
O rosto do carvoeiro
É o Brasil que mostra a cara

Muito "blá" se fala
A língua é uma piranha
Aqui é só trabalho
Sorte é pras crianças

Que vê o professor
Em desespero na miséria
Que no meio do caminho
Da educação havia uma pedra

E havia uma pedra
No meio do caminho
Ele não é preto velho
Mas no bolso leva um cachimbo

É o sleazestack
Zóio branco
Repara o brilho
Chewbacca na penha
Maisena com pó de vidro

Comerciais de TV
Glamour pra alcoolismo
E é o Kinect do XBox
Por duas bucha de cinco

HA-HA-HA-HA-HA-HA
HA-HA-HA-HA-HA-HA
Chega a rir de nervoso
Comédia vai chorar

Compro uma pistola do vapor
Visto o jaco califórnia azul
Faço uma mandinga pro terror
E vou

E eu fico aqui pregando a paz
E a cada maço de cigarro fumado
A morte faz um jazz
Entre nós

Cá pra nós
E se um de nós morrer
Pra vocês é uma beleza

Desigualdade faz tristeza
Na montanha dos sete abutres
Alguém enfeita sua mesa

Um governo que quer acabar com o crack
Mas não tem moral para vetar
Comercial de cerveja

Alô Foucault
Cê quer saber o que é loucura?
É ver Hobsbawm na mão dos boy
Maquiavel nessa leitura

Falar pra um favelado
Que a vida não é dura
E achar que teu 12 de condomínio
Não carrega a mesma culpa

É salto altom MD
Absolut, suco de fruta
Mas nem todo mundo é feliz
Nessa fé absoluta

Calma filha
Que esse doce
Não é sal de fruta
Azedar é a meta
Tá bom ou quer mais açúcar?

HA-HA-HA-HA-HA-HA
HA-HA-HA-HA-HA-HA
Chega a rir de nervoso
Comédia vai chorar

Compro uma pistola do vapor
Visto o jaco califórnia azul
Faço uma mandinga pro terror
E vou

15 outubro 2013

O que é canção? Sandra Ximenez

Sandra Ximenez

- O que é canção para você? De onde vem a canção?
A gênesis da canção pra mim seria aquela época primitiva em que fala e canto fossem a mesma coisa... em que brincar com sons, inventar palavras, entoá-las ludicamente, não tinham nome de fala ou canto. Isso parece que o coro grego tentou recuperar e o que eles faziam, por registros (ficaram partituras) e estudos antropológicos, etc. Dizem que era isso, cantofala, falacanto, um só. Daí a canção seguiu nesses ambientes da mistura, do povo, da poesia e da música popular. Hoje eu acho que ela é muito ampla, com várias facetas, não me alinho totalmente com a visão do Tatit e cia (apesar de que gosto das canções do Tatit), e da própria grande MPB, de que ela é a letra sobretudo, poesia em primeiro lugar. Acho que nem saber do que se trata a letra também é um jeito de fruir canção, dançar é outro jeito, e o meu jeito de construir e fruir canções é bem sensorial: música é sensação, e também o que me vem de letra, de sentido, fica nesse âmbito do "um elemento a mais" pra me fazer viajar. Se eu não entendo a língua em que se está cantando a própria palavra-som já me é suficiente pra curtir.

- Para que cantar?
Acho que cantar é humano, todos sempre cantaram em seus rituais, seus trabalhos, seus afagos e cuidados, e o mundo urbano foi nos distanciando disso. Então agora não são todos os humanos que cantam. Sou professora de canto há mais de 20 anos, e pela minha experiência todo mundo quer cantar, e pode cantar. Mas tem aqueles que escolhem isso como profissão. E no meu caso tem a ver com a vibração e transformação que o canto traz ao meu corpo, e também tem a ver com comunicação de algumas estéticas que eu faço por meio da música.

- Cite 3 artistas que são referências para o seu trabalho. Por que estes?
A Bjork, os provençais, e as trobairitz. A Bjork não dá nem pra falar o porquê, é por tudo. Radiohead é pelo canto do Tom Yorke e a sensibilidade dele nas harmonias, adoro as composições, e as 3 guitarras são completamente sedutoras pra mim. Nem sei quem escolher em terceiro lugar. São muitos artistas que gosto, mas esses dois se destacam de forma muito clara e especial. Se fosse falar de mais alguém teria que falar de mais uns 30.

08 outubro 2013

O que é canção? Ana Cláudia Lomelino

Ana Cláudia Lomelino

- O que é canção para você?
Para mim canção é qualquer música que se possa produzir e/ou reproduzir.

- De onde vem a canção?
A música-canção é uma espécie de deus bastante íntimo do ser humano, vem justamente desta junção do não-ser com o ser, do não-fazer com o fazer, do virtual com o atual, ânima e animus, portanto um belo molde do reencantamento do concreto.

- Para que cantar?
Cantar é ser ar, ser som que sobe ao céu, é deixar-se ir de uma forma divina, é crer na audiência invisível e eterna do agora, é tocar o todo.

- Cite 3 artistas que são referências para o seu trabalho. Por que estes?
Xuxa, ouvi e dancei muitos discos ao longo dos meus primeiros 10 anos como um ato de independência e de relação com a vitrola e as caixas de som e com a solidão (por opção). Caetano Veloso, uma voz desde a infância também, que seguiu um caminho mitológico na minha vida inteira, trazendo principalmente um exemplo belíssimo de liberdade. Domenico Lancellotti, quero sê-lo. exemplo mais próximo, escada linda na vizinhança.

01 outubro 2013

O que é canção? Juçara Marçal

Juçara Marçal

- O que é canção para você? De onde vem a canção? Para que cantar?
Juro que tentei, mas não tenho respostas pras suas perguntas. Pra todas elas só me vem o verbo VIVER. É pouco e é tudo o que tenho pra dizer sobre isso aqui.

- Cite 3 artistas que são referências para o seu trabalho. Por que estes?
A das referências é a mais difícil de todas. São muitas. Música brasileira, música africana, música norte-americana, música latina... E por aí vai. Referência é algo que nos alimenta artisticamente e tudo que me chega de todos os lados serve de referência pra mim. Citar alguém reduziria o caminho, reduziria a própria referência, portanto, é tudo isso aí e mais um pouco.