Em Toque dela (2011), Marcelo Camelo se apresenta como um cantor de canções. Não apenas porque suas composições demonstram maior equilíbrio entre letra e melodia - mirando para trás podemos perceber várias canções de Marcelo em que a voz que canta aparece intencionalmente em descompasso com a moldura melódica -, mas também porque podemos sentir ressonâncias de outras canções dentro das novas canções.
Desde o primeiro verso do disco - "triste é viver só de solidão", que remete o ouvinte à canção "Triste": "Triste é viver de solidão" -, passando por "Pretinha" (reminiscência sonora de "Preta, pretinha"), até os versos de "Despedida" - "eu não sou daqui também marinheiro", que restitui "eu não sou daqui, marinheiro só", de "Marinheiro só" - há um sujeito que recupera o passado das canções e canções do passado para interpretar seu atual estado (solitário) de espírito.
O recurso da metacanção é trabalhado com propriedade crítica e estética também no nível da melodia: além dos trompetes anos 1970, como não notar ecos de "Teus olhos"(Marcelo Camelo) dentro de "Acostumar" (Marcelo Camelo)? E como não destacar em "Acostumar" (Marcelo Camelo) o "ôô ôô" da canção "Ôô" (Marcelo Camelo)?
Colocando versos e harmonias para girar - juntando caquinhos de um velho/novo mundo -, Marcelo Camelo engendra um cuidadoso artifício intracancional: da canção que trata dela mesma e dentro de si: tecendo versos e motivos sonoros; justapondo vozes e desdobrando temas: como a solidão (fera devoradora).
A musa do disco é morena e está presente em várias canções. Em "Pra te acalmar", de Marcelo Camelo, o sujeito é o sabiá que consola a morena quando o mundo desaba e o medo se aconchega sob o lençol: "Passo essa canção pra te acalmar", diz.
Um sabiá que, por gozar da liberdade, investe na condição terrivelmente só do humano e exalta a soltura da morena - "esteja morena você onde estiver / achada no peito de um outro protetor ou solta" - e, por isso mesmo, torna ela escrava do canto de reconhecimento que ele entoa para ela.
O sujeito de "Pra te acalmar" sabe e canta a dor de não caber em si: das relações afetivas com seus gestos desperdiçados. Ele nina a morena indicando possibilidades de novas estações. Ele sustenta o voo da morena na voz, na canção que compõe para ela: "gente é pra voar", diz.
Como um cantor que passa uma canção antes do show, ele afirma o quanto é natural canta-la: dar-lhe vida, pois, assim como as canções só existem se tocadas, a morena existe na voz de seu cantor.
O recurso da metacanção é trabalhado com propriedade crítica e estética também no nível da melodia: além dos trompetes anos 1970, como não notar ecos de "Teus olhos"(Marcelo Camelo) dentro de "Acostumar" (Marcelo Camelo)? E como não destacar em "Acostumar" (Marcelo Camelo) o "ôô ôô" da canção "Ôô" (Marcelo Camelo)?
Colocando versos e harmonias para girar - juntando caquinhos de um velho/novo mundo -, Marcelo Camelo engendra um cuidadoso artifício intracancional: da canção que trata dela mesma e dentro de si: tecendo versos e motivos sonoros; justapondo vozes e desdobrando temas: como a solidão (fera devoradora).
A musa do disco é morena e está presente em várias canções. Em "Pra te acalmar", de Marcelo Camelo, o sujeito é o sabiá que consola a morena quando o mundo desaba e o medo se aconchega sob o lençol: "Passo essa canção pra te acalmar", diz.
Um sabiá que, por gozar da liberdade, investe na condição terrivelmente só do humano e exalta a soltura da morena - "esteja morena você onde estiver / achada no peito de um outro protetor ou solta" - e, por isso mesmo, torna ela escrava do canto de reconhecimento que ele entoa para ela.
O sujeito de "Pra te acalmar" sabe e canta a dor de não caber em si: das relações afetivas com seus gestos desperdiçados. Ele nina a morena indicando possibilidades de novas estações. Ele sustenta o voo da morena na voz, na canção que compõe para ela: "gente é pra voar", diz.
Como um cantor que passa uma canção antes do show, ele afirma o quanto é natural canta-la: dar-lhe vida, pois, assim como as canções só existem se tocadas, a morena existe na voz de seu cantor.
***
Pra te acalmar
(Marcelo Camelo)
Passo essa canção pra te acalmar
esteja morena você aonde for
você sabe bem onde fica toda dor, morena
a chuva e um tanto de tempo pra molhar
o vento que bate pra gente se secar
Passo essa canção pra te acalmar
esteja morena você onde estiver
achada no peito de um outro protetor ou solta
que a gente na foi feita pra voar
(Marcelo Camelo)
Passo essa canção pra te acalmar
esteja morena você aonde for
você sabe bem onde fica toda dor, morena
a chuva e um tanto de tempo pra molhar
o vento que bate pra gente se secar
Passo essa canção pra te acalmar
esteja morena você onde estiver
achada no peito de um outro protetor ou solta
que a gente na foi feita pra voar
Um comentário:
Olá Leo,
Ouvi essa canção ontem pela primeira vez.
-Você tem razão quando coloca que Marcelo Camelo tem uma nova postura de compor ...bem diferente dos tempos de Los Hermanos. Sobre essa nova postura, tem uma entrevista que ele deu para a TV Portuguesa RTP que me impressionou muito sobre as ideias dele a esse respeito.
É algo zen, haicai, Leminski, a utilização do acaso.. As canções dele me sensibilizam, mexe comigo profundamente.... No show dele em Recife ainda do disco anterior em 2009 chorei feito criança.
abraço
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