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07 abril 2024

Mistura adúltera de tudo


"Quando conseguirmos, no lugar da estratégica omissão, estabelecer um respeitoso dissenso entre nós (em oposição aos verdadeiramente nefastos ataques da extrema direita), talvez estejamos mais perto de alguma resistência cultural contra a força dissolvente do neoliberalismo contemporâneo, para o qual - há tempos - já não há mais sociedade". A frase que encerra o ensaio MISTURA ADÚLTERA DE TUDO, mais do que apontar uma conciliação utópica, convoca-nos a refletir sobre os caminhos que nos levaram a tão facilmente aceitar a cooptação de nossos discursos, práticas e experiências éticas e estéticas pela extrema direita (que a tudo pasteuriza e aniquila), dos anos 1970 até aqui. Promovendo uma breve revisão constelar do percurso, Renan Nuernberger diagnostica nexos e lacunas fundamentais para quem pensa e faz arte (notadamente, com texto criativo) no Brasil. Se desde 1970 o esforço tem sido "tornar o presente habitável", quanto tempo se perde em falsas polêmicas e dicotomias e em verdadeiros apagamentos e exclusões? Se "riquezas são diferenças", como diz o rock - essa linguagem jovem do jovem -, no exercício da chamada "vida literária" reinam os grupos que se retroalimentam. "Sem a fricção do debate entre artistas, a esfera do mercado, na qual todos estamos inseridos, desmancha as diferenças formais em favor de uma supostamente irrestrita fruição estética, cujo resultado, no limite, é uma relação anestesiada com as obras consumidas", escreve Nuernberger. Sem tocar no tema do "leitor sensível" é disso que (também) está se falando aqui, da deseducação dos sentidos - resultado do excesso de (pseudo) harmonia. MISTURA ADÚLTERA DE TUDO é, com perdão da nostalgia, um elogio à intrincada relação entre poética e política, diferença e ocupação.

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