Desde o Projeto 365 Canções (2010), o desafio é ser e estar à escuta dos cancionistas do Brasil, suas vocoperformances; e mergulhar nas experiências poéticas de seus sujeitos cancionais sirênicos.
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21 abril 2024
Gentis guerreiros
O poema “Canção do exílio” fixou uma imagem do Brasil que extrapolou as páginas dos livros. Naquele momento pós-Independência, as nossas cores, a nossa fauna, a nossa flora foram cantadas de forma ufanista para nos diferenciar do colonizador. Extremamente musical, escrito em redondilhas e sem adjetivações, seus versos foram incorporados ao hino nacional e fazem parte da memória afetiva dos brasileiros - sendo um dos poemas mais parodiados, pastichizados de nossa história. Mas Gonçalves Dias fez mais. Ainda na esteira do bicentenário do poeta maranhense em 2023, reli o pioneiro GENTIS GUERREIROS, livro em que Cláudia Neiva de Matos analisa o "Indianismo em Gongalves Dias". O "em" aqui é chave de leitura do trabalho de Cláudia, já que a autora demonstra como o poeta incorporou procedimentos, ritmos e temas originais (e originários), no que se refere à representação de vozes e corpos até então recalcados; e fundou uma "convenção" do nacional, "fabricada com materiais ideológicos e estéticos: cumplicidade de duas categorias que ao mesmo tempo rechaçam a realidade e a ela se apegam obscurantemente - inventam-na", escreve. A professora passa em revista a recepção crítica da obra do poeta - Lúcia Miguel Pereira, Antonio Candido, Cassiano Ricardo, são alguns interlocutores; além de comparar a obra gonçalvina com a tradição por ele herdada e com escritores seus contemporâneos. "Para bem compreender o mecanismo da idealização do herói e de seus pares em Gonçalves Dias, é preciso observar como aí se combina a mítica do cavaleiro feudal à do bom selvagem", orienta. E observa, com análise de trechos, que o indianismo gonçalvino "é muito mais amargo que o do deputado, ministro e homme du monde Alencar, ao mesmo passo que aponta um conceito de nacionalidade inteiramente diverso". Por essas e outras miradas e miragens da leitura crítica rigorosa, GENTIS GUERREIROS é livro fundamental para a compreensão da contradição brasileira encarada pelo poeta. Contradição que Cláudia estabelece desde o título de seu livro.
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