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28 maio 2023

Artigos selecionados - Carlinda Nuñez


"Viver não cabe no Lattes", diz o meme que fala fundo ao coração de quem desenvolve pesquisa no Brasil. Por isso mesmo é preciso reconhecer e agradecer quem faz do viver uma invenção dos melhores modos de ser e estar inteiro em cada coisa que realiza, dentro e fora do trabalho (se é que há essa fronteira num mundo neoliberal). O livro ARTIGOS SELECIONADOS, com textos da professora Carlinda Fragale Pate Nuñez, é isso: um reconhecimento. Organizado por Elisa Figueira de Souza Corrêa e Isabel Arco Verde Santos, o volume guarda textos, artigos diversos, distantes entre suas publicações em revistas acadêmicas, mas cuja unidade se dá pela linguagem direta, o rigor metodológico e o manejo de conhecimentos clássicos - tudo o que caracteriza a trajetória docente da autora. Ninfas, Musas, mitos gregos, Almodóvar, Lanthimos, Música, Poesia, tragédias e abismos aparecem animados pela escrita da autora, para quem "A Antiguidade clássica fornece duas representações díspares das mulheres. De um lado, as mulheres trágicas, entes sociais sem voz e que já têm em si algo de personagem, pois entram em cena para receber, em muitos casos, o troféu de uma morte violenta, narrada. (...) De outro lado, as musas, figuras míticas cuja invocação necessariamente antecede qualquer atividade intelectual, monopólio de homens, no quadro da Antiguidade". A inspiradora trajetória da vida acadêmica de Carlinda transvaloriza o meme, ao lançar mundos no mundo. Vida longa!

21 maio 2023

Rita Lee mora ao lado


Desde que Rita Lee foi voar num disco voador com David Bowie proliferam-se nas redes frases como "ela era feminista sem ser feminista", tanto para deslegitimar a militância, quanto para reforçar a pecha de "alienada" da artista. Esquece-se que, no Brasil, desbundar é militar, é subverter. Em algumas entrevistas Rita Lee falava em "feminismo de ação", ou seja, sem negar a militância intelectualizada, ela militava com gestos transgressores que confrontavam o nosso ethos machista opressor. Nada mais feminista, em se tratando de uma cultura com "diferentes feminismos", como dignostica a professora Eurídice Figueiredo no livro "Por uma crítica feminista". Sendo "uma biografia alucinada da rainha do rock", o livro RITA LEE MORA AO LADO, de Henrique Bartsch, traduz bem essa persona artístico-política. O autor coloca em prática a lição de Maiakóvski, a saber, "tirando os monumentos do pedestal, devastando-os e virando, nós mostramos aos leitores os Grandes por um lado completamente desconhecido e não estudado". Nas palavras da biografada, Bartsch apresenta "um tratado arqueológico de minha vidinha vulgar, o encontro de vários elos perdidos, Peter Pan na terra de Oz do Sítio do Picapau Amarelo. Uma viagem lisérgica sem tomar ácido algum". Não sendo uma biografia o livro RITA LEE MORA AO LADO biografa, ao devastar o monumento que Rita Lee nunca quis ser. Mas é!

14 maio 2023

Ditadura no Brasil e censura nas canções de Rita Lee


O livro DITADURA NO BRASIL E CENSURA NAS CANÇÕES DE RITA LEE é saber com sabor resultado do trabalho atento de Norma Lima. Pesquisadora e arquivista da obra de Rita Lee, a professora lembra que a mutante foi a compositora mais censurada pela (nossa) ditadura militar. Letras proibidas, estratégias de driblar a tirania fascista, a escrita da voz feminina interditada são manejadas por Norma Lima a fim de apresentar a importância, a inovação e a luta por liberdade criativa, que, no caso do Brasil, é liberdade de expressão da mulher. Com farto material analisado, o livro guarda um procedimento caro à crítica de canção e à história da cultura brasileira. "Rita Lee, assim, simboliza a censura a espíritos livres, os quais, independentes da época em que existam, sempre incomodam os limitados. Os fatos analisados e ocorridos com ela e com sua obra clamam para que os tenebrosos anos de exceção nunca mais se repitam no Brasil, ao mesmo tempo que conclamam que a sociedade contemporânea - e mundializada - reflita sobre experiências antigas em novos cenários", conclui Norma Lima.

07 maio 2023

A Princesa


A quantidade de pessoas travestis e transexuais assassinadas no Brasil é assustadora. E com as garras fascistas sobre as poucas políticas públicas de inclusão, o número só tende a crescer. O livro A PRINCESA, misto de entrevista (a Maurizio Jannelli - ex-integrante das brigadas vermelhas) e prosa narrativa, apresenta "o avesso de um conto de fadas": a luta de Fernanda Farias de Albuquerque - do nordeste brasileiro a uma prisão italiana - para sobreviver ao horror transfóbico e à imposta marginalização. O livro é o resultado da montagem dos inúmeros bilhetes trocados entre Princesa e Maurizio, com a ajuda de Giovanni Tamponi. As histórias de resistência, os usos dos instrumentos de sobrevivência se sobrepõem, se justapõem. "Eu estava fresca de Brasil e isto dizia alguma coisa aos clientes. Eu sentia, pelo modo como eram atraídos pelo meu sorriso. Vendia exotismo, e só às seis da manhã acabei de realizar o último sonho. Exausta", anota Fernanda, no caderninho que transitava entre as celas, dando conta de sua chegada na Europa. A tradução de A PRINCESA é de Elisa Byington.