Da primeira estrofe - "Generalistas enciclopédicos, / sentimentalistas autocongratulatórios, / peço licença, / tenho que ir ali." - ao derradeiro verso - "Mas ele está ali, tentando de novo" -, o livro QUERO-QUERO NA VÁRZEA, de Sylvio Fraga, captura e traduz deslocamentos, seja do eu à alteraridade (por vezes, incorporada ao eu), seja dos espaços comuns excessivamente mapeados na era do gps, mas muito pouco experimentados. Ver requer tempo e disposição: "Minha obra não faz barulho nenhum", diz o poema que dá título ao livro. QUERO-QUERO NA VÁRZEA é essa visão, esse tempo para a visão. Da falta de novidade imposta pelo contemporâneo, a bio do poeta inscreve-se na paternidade. "Famílias se formam mundo afora, a terra resiste". Ver Carolina preparando outra pessoa e ver o filho sendo instam o reencantamento de si, consequentemente, do lirismo. "Aqui em cima se vê tudo / e não se vê nada", lê-se. Se poesia ainda é um "tempo de viagem" roubado pela vida ordinária, ("Cadê a onça onipresente que ninguém nunca viu?", pergunta-se a voz do poema), a poesia de Sylvio quer reflorestar algumas regiões do banal, do óbvio, do simples, do comum. Lidos na disposição do livro, os poemas demonstram seu projeto de mirada, concisão e desautomatização do olhar de quem lê e vive agora.
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