No final de "Soneto de vidro" o poeta Joaquim Cardozo escreve que "Lendo-o com precaução modesta e ágil / Cuidado tenham no seguir seus versos / Que este soneto é de matéria frágil". A advertência é importante, pois cada vez menos, posto que cada vez mais tecnizados, temos os olhos livres no ponto exato para iluminar (ler e deixar ser por ele iluminado) o poema por dentro. Mais facilmente seduzidos pelas temáticas da ordem do dia, esquecemos que poesia, sendo arte, é trabalho, é potencialização da linguagem e da língua. No livro JOAQUIM POR JOÃO: CARDOZO NA POESIA DE CABRAL o professor Éverton Barbosa Correia exerce o que em algum momento da história de nossa literatura já chamamos de "leitura de poesia", ou seja, ele faz do objeto artístico um bem comum. Para tanto, Éverton toma como objeto a obra de dois grandes - Cabral e Cardozo. "A universalização do objeto artístico não contradiz a particularidade histórica que o condiciona social ou editoralmente, mas, ao contrário, humaniza-o como parte do patrimônio cultural existente", escreve o autor. Nesse sentido, Éverton faz da própria "matéria frágil" do poema seu pressuposto crítico. A seriedade, o rigor, as associações, os diálogos e as aberturas estabelecidas no livro JOAQUIM POR JOÃO: CARDOZO NA POESIA DE CABRAL são preciosidades. Ao autor, como a todo bom crítico, interessam os procedimentos. O resultado é um trabalho singular e fundamental para a biblioteca de quem arvora-se a ler poemas.
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