Roger Bastide chamou Marco zero, a obra oswaldiana mais alinhada ao comunismo de "tropicalismo literário". "Tropicalismo literário, não mais rural, como o antigo, com seu exotismo de plantas raras, o desterro desejado do meio, mas tropicalismo urbano, à imagem do de São Paulo, de que o livro quer ser pintura", escreveu Bastide. No livro A TRAMA TROPICAL, André Masseno mapeia e organiza as várias pontas da meada dessa pintura tropicalizante. Como e a partir de quem o óbvio (comum) e o exótico (diferente) foram e continuam sendo manipulados artística e politicamente para pintar o país? Para ensaiar a resposta, o autor investe numa historiografia constelar (capitular), ao selecionar e ler com máxima profundidade e diálogo as obras de Araripe Júnior, Sousândrade, Hélio Oiticica, José Agrippino de Paula, entre outros. Desse modo, o livro A TRAMA TROPICAL recupera e enfrenta a velha questão que a brisa do Brasil (ainda) beija e balança: apocalípticos, integrados, terceira margem, estrangeiros, locais, antropófagos, tropicalistas, luxo, lixo, alucinação, delírio, acúmulo, desprezo, agro, tech - o que quer, o que pode o nós brasileiro? Em tempos neoliberais, de fim do comum, da impossibilidade de comunidades, da subdivisão das identidades, o livro de André Masseno restitui artifícios e estetizações cruciais de nossa ética brasílica. Um livro fundamental para pensar a (contra)cultura daqui, dali, de todo lugar obnubilado pela incorreção, pela "contribuição milionária de todos os erros", como escreveu Oswald.
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