Desde o Projeto 365 Canções (2010), o desafio é ser e estar à escuta dos cancionistas do Brasil, suas vocoperformances; e mergulhar nas experiências poéticas de seus sujeitos cancionais sirênicos.
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21 janeiro 2024
Das vanguardas à tropicália
Dentre os muitos livros que tratam da relação entre a Tropicália e as vanguardas europeias do começo do século XX, dentre eles, o incontornável "Convergências: poesia concreta e tropicalismo", de Lúcia Santaella, destaca-se DAS VANGUARDAS À TROPICÁLIA. Tamanho o rigor crítico. Nele, Guilherme de Azevedo Granato passa em revista as várias filigranas da "modernidade artística" até a "música popular". "A retomada pelo tropicalismo de processos construtivos que remetem às vanguardas históricas insere-se em um momento de recuperação do ideário vanguardista, concomitante com o cenário europeu e norte-americano", escreve Granato, para observar que "formulações como a performance e o happening surgiram como formas alternativas de fruição artística, almejando uma influência direta na vida prática por meio do estímulo sensorial e da desorganização da lógica cotidiana". No Brasil, com a censura e o controle pela ditadura militar, isso ganha conotações importantes, com usos singulares das experimentações artísticas. Urgia superar a separação entre arte e vida. E "o principal intento dos levantes vanguardistas foi o de atacar a arte enquanto instituição dentro da sociedade burguesa", lê-se em DAS VANGUARDAS À TROPICÁLIA. Insubmisso, o instante-já da performance e do happening não se deixa capturar, arquivar, reproduzir, dificultando a ação autoritária. Isso nos ajuda a entender porque muitos cancionistas deram prioridade aos discos de shows ao vivo. Microfones desligados, ruídos propositais, palavras alterações durante o canto marcam o período. Devorar as estruturas era um gesto ético e estético. O livro de Granato orienta como isso se realizou.
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