"O que quer / o que pode esta língua?". A pergunta caetânica, feita depois de dignosticar a língua como "flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó", dá nó na orelha. O cancionista está homenageando ou críticando o verso de Bilac que aponta a língua enquanto "última flor do Lácio, inculta e bela, / (...) esplendor e sepultura"? Ambos, poeta parnasiano e cancionista tropicalista, esses manipuladores da linguagem carregada de significado em alto grau (sim, eu sei da discussão da diferença entre língua e linguagem, Sausurre), apontam a ambivalência disso que de algum modo miraculoso nos "une" enquanto gente brasileira. Digo isso porque é de se admirar quem consegue quebrar questões duras do pensamento crítico e entregar respostas a essas questões para um público mais amplo, sem subestimar quem lê (incluindo aí a pessoa, supostamente, "leiga") e quem vive de pesquisar, elaborar, enfrentar tais questões - cientistas, filósofos, pesquisadores, linguístas. É exatamente o que Caetano Galindo faz em LATIM EM PÓ. Um livro em tom de prosa (conversa) leve, de veraneio, tropical, mas que acompanha com rigor investigativo todas as travessias realizadas - história, patrimônio, legados, repertórios, traumas, dávidas e dívidas, o que quer e o que pode - para a língua chegar até aqui. Com um tanto bom de lirismo, Galindo traduz o monumento e confirma que a língua não tem governo, nem nunca terá.
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