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30 julho 2023

Do canto e do silêncio das sereias


O livro DO CANTO E DO SILÊNCIO DAS SEREIAS é "um ensaio à luz da teoria da narração de Walter Benjamin". E é mais. Tornou-se meu livro de cabeceira, de referência, desde que chegou a mim, quando eu terminava de escrever a minha tese de doutoramento. Foi uma revolução nas minhas hipóteses. Eu queria começar do zero. Não dava tempo. Desde então, leio, releio, cito o livro de Luís Inácio Oliveira. O livro apresenta de modo superiormente didático-histórico-crítico-contextual grande parte do que (me) interessa no pensamento de Homero, Adorno, Benjamin, Kafka, Blanchot, ou seja, tenta perceber o que quer e o que pode a Sereia - essa metáfora do que "Ar no ar, / pedra sobre pedra, / inacessível ao perecível e à podridão, / irradiante / eleva-se sobre os séculos / a oficina humana da ressurreição", como lemos no poema "Sobre isto" de Maiakóvski. A Sereia guarda a matéria fina: a vida de quem tem os ouvidos livres para ouvir seu canto (e silêncio). O livro de Luís Inácio Oliveira reelabora isso ao investigar a presença da Sereia na modernidade, quando tapamos o ouvido, ou fazemos ouvidos moucos, à vida "mais real", porque estetizada. "Uma tradição se degrada quando já não oferece sentidos reconhecíveis e confiáveis, quando já não possibilita a comunicação do presente com o passado. Uma tradição em agonia pode, contudo, buscar subsistir como repetição vazia de sentido num derradeiro e desesperado esforço por preservar algo de um passado referencial contra o desamparo e o desabrigo de um presente que não dispõe de vínculos de sentido com a experiência que o antecedeu", escreve Luís Inácio Oliveira. Se "Da podridão / As sereias / Anunciarão as searas", como poetou Oswald de Andrade, é do ruído-podridão moderno que o livro DO CANTO E DO SILÊNCIO DAS SEREIAS retira e ilumina suas hipóteses sobre tradição e ruptura da narração (e narrativa) humana.

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