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16 julho 2023

Candomblé de rua - O Bembé de Santo Amaro


Quando Caetano Veloso canta "Dia 13 de maio em Santo Amaro / Na Praça do Mercado / Os pretos celebravam / (Talvez hoje ainda o façam) / O fim da escravidão / Da escravidão / O fim da escravidão" evoca cenas vistas desde a infância em Santo Amaro da Purificação, evoca o Bembé do Mercado, festa negro-brasileira que acontece todo dia 13 de maio desde 1889, um ano após a tal assinatura de Zabé. Tradição engendrada pelo babalorixá João de Obá, Patrimônio Imaterial do Estado da Bahia, o Bembé do Mercado tem seus ritos e mitemas registrados em texto e imagens no livro CANDOMBLÉ DE RUA - O BEMBÉ DE SANTO AMARO, de Jorge Velloso. São textos e imagens que permitem a quem lê perceber as mudanças que a festa sofreu para que ela continuasse sendo festa: fresta no horror que foi (e é) a escravidão. "Tanta pindoba / Lembro do aluá / Lembro da maniçoba / Foguetes no ar", continua a canção de Caetano. Novas subjetividades e perspectivas se misturaram e ressignificaram o gesto político de Zabé. A festa saúda ou salda a princesa? Sendo a fé na celebração, o livro, que tem Apresentação assinada por Maria Bethânia, é um excelente documento de pesquisa para quem quer pensar as complexidades e as encruzilhadas da gente de um lugar onde “Zabé come Zumbi / Zumbi come Zabé”, como canta também Caetano noutra canção; de um Brasil que se realiza, pulsa, canta, chora e ri, à margem do Brazil. Leio, vejo as fotos do livro e lembro, por exemplo, do ethos do gaio saber da missa na igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, do cheiro da Feira de São Joaquim, da baiana com cesto na cabeça num azulejo seiscentista do antigo Convento de Santa Teresa, hoje Museu de Arte Sacra, na cidade de Salvador. Tudo numa Bahia que, sem romantizar sua história, mas, pelo contrário, encarando essa história de frente, tem um jeito de Terra, chão, rua.

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