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24 setembro 2023

Rita Lee & Tutti Frutti - Santa Maria, Maio de 1978


No livro RITA LEE & TUTTI FRUTTI, SANTA MARIA, MAIO DE 1978, Gérson Werlang parte de uma experiência pessoal, estar na plateia do show da turnê do disco Babilônia, na cidade de Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul, em maio de 1978, para apresentar uma crônica cultural e de costumes envolvendo a década (de revoluções por minuto, ou milênios?) de 1970. Werlang restitue com primores de detalhes a cena, o contexto, o clima de um "tempo irradiado", feito de "rage, rage against the dying of the light", como diz Dylan Thomas numa das epígrafes do livro. No mesmo poema, Thomas faz referência a "wild men who caught and sang the sun in flight". E não é essa a completa tradução de Rita Lee? Na crônica ensaística de Gérson Werlang ficamos mais íntimos dessa poética, pois o autor repassa o percurso artístico e pessoal de Rita até o tão aguardado show babilônico: no começo, "a eletricidade pairava no ar, como se uma descarga estivesse por vir"; no final, "fogos de artifício imaginários podem ter brindado aquele momento". Com fotografias e relatos luminosos do tempo e do espaço da experiência, o autor nos lembra que "resta a sensação cósmica de que, no passado, vive o futuro. Só não podemos deixá-lo ir, só não podemos esquecê-lo". O livro é uma fábula rock'n'roll setentista contra o esquecimento de um momento singular da ebulição cultural de nosso país.

17 setembro 2023

América Latina em sua literatura


AMÉRICA LATINA EM SUA LITERATURA tem coordenação e introdução de César Fernández Moreno e reúne textos preciosos para pensar o tema do livro, "resultado de um vasto projeto da UNESCO de estudar a cultura universal na especificidade de seus conjuntos culturais". Podemos ler textos de Antônio Houaiss, Emir Rodrígues Monegal, Ramón Xirau, Severo Sarduy (e seu brilhante ensaio "O barroco e o neobarroco"), Fernando Alegría, Haroldo de Campos (e seu texto "Ruptura dos gêneros na literatura latino-americana"), Antônio Cândido (com o fundamental texto "Literatura e subdesenvolvimento"), José Guilherme Merquior, Lezama Lima (e o "Imagem da América Latina", tratando do canto coral que a poesia entoa na história americana) e outros. É livro de cabeceira, de consulta, de revisão, de provocações que rompem e permanecem como questões importantes para a mirada no espelho. "No centro da história americana, no quincunce do espaço incaico, continua ganhando as mais decisivas batalhas pela imagem, as secretas pulsações do invisível para a imagem, tão ansiosa de conhecimento como de ser conhecida", escreve Lezama. À América!

10 setembro 2023

Corpo a corpo com o texto na formação do leitor literário


"No lugar de ser objeto de prazer e de permitir o desenvolvimento espiritual, a literatura transformou-se em problema, complicação, objeto de temor". O diagnóstico feito por Suzi Frankl Sperber no prefácio do livro CORPO A CORPO COM O TEXTO NA FORMAÇÃO DO LEITOR LITERÁRIO dá o mote daquilo que a professora Eliana Kefalás glosa, a saber, uma resposta à pergunta: "como favorecer a experiência no ato de leitura, se existe uma tendência ao engessamento, à automação das ações, e o temor do texto, da dificuldade (fantasiada) do texto, cuja dificuldade reside em sua beleza, no uso ímpar da linguagem?". No ensaio da resposta a autora dá uma bela aula-oficina sobre o tema "performance", palavra muito usada de modo irresponsável em nossos dias, sem a força que o conceito por trás da palavra tem. Kefalás parte dos estudos incontornáveis de Paul Zumthor, passa pela restauração da "experiência" benjaminiana e chega a encaminhamentos teóricos e práticos luminosos para quem lida com o corpo a corpo do texto em sala de aula, ou seja, na vida. Kefalás lembra que o conceito "performance" tem longa tradição crítica e parece ter tomado para si a responsabilidade cantada pelo poeta santamarense Antonio Vieira: "Os nomes dos poetas populares / Deveriam estar na boca do povo / No contexto de uma sala de aula / Não estarem esses nomes me dá pena". Sem simplificações de tema tão complexo, a autora coloca o nome e o poema na voz de quem lê.

03 setembro 2023

Sousândrade vida e obra


Lançado em 1976, o livro SOUSÂNDRADE: VIDA E OBRA ainda é a biografia mais bem acabada do poeta maranhense Joaquim de Sousa Andrade. A fusão proparoxítona com que o poeta assinava suas obras dá o tom da invenção e da originalidade dessas obras. Amálgama, mistura, montagem, palimpsesto, fragmento são palavras-chave importantes da poesia sousandradina. Poeta sempre à espera de leituras à altura de sua grandeza, para Camilo Castelo Branco, o autor de O Guesa foi "o mais estremado, mais fantasista e erudito poeta do Brasil". Nessa biografia, com uma introdução de Jorge de Sena, o professor Frederick Williams, que, ao lado de Jomar Moraes, foi responsável por recolher e estabelecer a poesia de Sousândrade, nos apresenta as contradições da voz inquieta que viveu por trás da voz da persona poética. A qualidade do trabalho de pesquisa, cotejo e crítica de Willians é inspirador. Fotos, documentos, trechos de textos são armados para compor a personagem desconhecida. "Um importante aspecto da originalidade de Sousândrade está no tratamento do escravo africano como figura literária. O poeta se inscreve não só entre os primeiros a abordarem tal assunto, como antecipa em vinte anos os poetas abolicionistas", anota Williams. Fato é que, tendo criado em trânsito, entre São Luís, Londres e Nova York, Sousândrade estetizou com "lubricidade realista" a malfadada brasilidade como ninguém.