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02 julho 2023

Leitura de poesia


Reforço sempre: é cada vez mais raro encontrar textos que analisam poemas equilibrando ética e estética, forma e conteúdo. Entende-se que, no Brasil, as questões sócio-políticas se sobreponham sempre, mas é frustrante, no mínimo, que aquilo que caracteriza o poema, ou seja, o trabalho com a linguagem, fazer a linguagem "errar", seja desconsiderado na hora da leitura crítica do poema. Esse trabalho exige reflexão, é isso que faz o pensamento pensar. Pois, frequentemente, esquece-se que debater estética é debater ética. Por isso, mas não apenas, é sempre bom reler um livro como LEITURA DE POESIA, organizado por Alfredo Bosi, autor do incontornável, sobre o mesmo tema, "O ser e o tempo da poesia". Lançado em 1996, LEITURA DE POESIA reúne leitores críticos acadêmicos, a fim de tratar poemas de poetas do cânone - de Mário a Cabral, por exemplo, passando por Bandeira. Salvo "Cajuína", canção de Caetano Veloso, que recebe interpretação inspiradora de José Miguel Wisnik. Ao colocar esse texto no livro, Alfredo Bosi confronta a antiga, mas recorrente, querela entre poema de canção e poema de livro. Wisnik transcende a querela, evidentemente. De fato, cada convidado do livro mostra modos de leituras, possibilidades de entrada e saída do poema escolhido para ler. "O projeto do livro tem uma dupla dimensão: crítica, isto é, valorativa, enquanto os ensaístas se detiveram em textos que lhes pareceram dignos de atenção; e pedagógica, na medida em que se constata em esforço de tornar acessível a jovens iniciantes nas Letras a linguagem complexa da análise e da interpretação do poema", escreve Bosi na nota introdutória desse livro de cabeceira de quem lê, trabalho com, faz poesia.

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