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09 abril 2023

Futuro ancestral


No "Manifesto da Poesia Pau Brasil", Oswald de Andrade anotou que "Temos a base dupla e presente - a floresta e a escola". Esse aforismo ilumina a leitura de FUTURO ANCESTRAL. Que luxo ter Ailton Krenak pensando e re-presentificando esse Brasil que (ainda) temos: "Bárbaros, crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil", como também escreveu Oswald. Organizado por Rita Carelli, mais do que um livro de alerta, ou apocalíptico, FUTURO ANCESTRAL é um livro de memória, de lembrança do que temos, mas que, submerge no excesso da vida pretensamente moderna (pra quem?). O pensamento de um "Estado plurinacional" defendido por Krenak é insurgente porque vai no núcleo duro do senso comum. O que nos leva a lembrar dos versos de Caetano Veloso quando canta que um índio virá "E aquilo que nesse momento se revelará aos povos / Surpreenderá a todos não por ser exótico / Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto / Quando terá sido o óbvio". É essa obviedade obnubilada pelo horror do progresso vazio que Krenak nos revela. "(...) Mas a verdade é que estamos vivendo projeções de futuros muito improváveis, embora continuemos preferindo essa mentira ao presente", diz o "filósofo originário", assim nomeado por Muniz Sodré na orelha de FUTURO ANCESTRAL.

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