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30 abril 2023

O som vertebrado


Edimilson de Almeida Pereira é poeta cuja obra tem minha atenção desde o primeiro poema lido. A cada livro, a cada poema, o rigor e o frescor da linguagem manejada por Edimilson mais se revela para mim enquanto concentrações de belezas cujas singularidades se presentificam em novidade e informação. "Os cães que fui me desconhecem. / Um tigre azul, / outro pintado - indeclináveis na língua", lemos no poema "O homem", do livro O SOM VERTEBRADO. Aqui a palavra falada é fixada sem prejuízo do sonoro. Se em Iniciação na cultura literária medieval, Segismundo Spina observa que "proclamada a superioridade e a anterioridade da letra em relação à melodia musical, surge então o poeta; e a fase do trovador e do troveiro entra em declínio. Há agora uma especialização de funções: o poeta compõe a letra, ficando a cargo do músico a melodia. A poesia deixa de ser cantada para se tornar cantável", Edimilson reencontra a ancestralidade do poético na voz e no corpo presente de Milton Nascimento, nublando as fronteiras do dito, do escrito. O que temos diante dos olhos são cantos que acionam nossas memórias sonoras. Isso restitui o caráter coletivizante, do canto coral que em algum momento da nossa história se perdeu, foi desperdiçado, ou recalcado: "há um deserto entre as begônias", escreve Edimilson. "Não é pelo que se perdeu que se canta, Camões?", pergunta. Em O SOM VERTEBRADO Edimilson totemiza leituras, audições, vivências afirmando que "O cerco às ideais tem aparatos / em Minas / ou em qualquer estado"

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