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16 abril 2023

Aurora: memórias e delírios de uma mulher da vida

 

AURORA: MEMÓRIAS E DELÍRIOS DE UMA MULHER DA VIDA registra a ambiguidade "da vida" no título do livro e da existência de Aurora Cursino. Quando ganhei o livro eu tinha uma vaga ideia de quem foi Aurora Cursino. Prostituta até ser internada no Complexo Psiquiátrico do Juquery, em 1944, Aurora finalmente tem sua obra e sua biografia guardadas com a atenção que a artista merece. O livro de Silvana Jeha e Joel Birman dá conta de transitar entre história, psicanálise, arte e literatura. É um livro de referência sobre como manejar tais disciplinas. E a interdisciplinaridade indica a potência da obra de uma artista que se inscreveu na pintura, experimentando eus no precário - sobras de papel-cartão e refugo do material são a base para expor o par sexo e violência - experimentado sob o jugo do controle patriarcal. "Os quadros dela são basicamente um ataque do patriarcado à mulher" e "Tentamos interpretar seus gritos e sussurros pictográficos como instrumentistas o fazem com uma partitura, com alguma liberdade e alguma lealdade à obra que Aurora produziu como interna do Juquery na década de 1950", escrevem Jeha e Birman. Tentaram e conseguiram. O que temos em mãos é um trabalho de arqueografia que nos dá conta de informar, pela voz da mulher prostituída, por exemplo, a vida no Mangue - espaço que seduziu artistas, de Vinicius de Moraes a Lasar Segall, passando pelo Oswald de Andrade de "O santeiro do mangue", no início do século XX. Como ser moderno quando ainda subjuga-se às mulheres o metro do homem? Aliás, foi Luciana (@illustrallu), que está desenvolvendo pesquisa de mestrado sobre o Santeiro, quem me deu o livro. Interessante pensar que quem primeiro reconheceu arte na obra de Cursino, artista que escreveu o corpo e pintou a existência, foi Patrícia Galvão, a Pagu. AURORA: MEMÓRIAS E DELÍRIOS DE UMA MULHER DA VIDA é um livro contundente e que apresenta uma mulher artista que antecipou muito do que anos mais tarde chamamos de "arte feminista"; e que soube escrever através e inclusive atravessada pela estetização da vida como forma de sobrevivência.

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