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02 abril 2023

Guerreira

 

No livro em que analisa o disco GUERREIRA Giovanna Dealtry manipula o adjetivo-título a fim de apresentar a voz que canta e a voz que vive por trás da voz que canta: Clara Nunes, cantora que assumiu na vida fora dos palcos gestos que a inscreveram na história de nossa canção popular como a tal mineira, criada no samba, filha de Ogum com Iansã, mulher guerreira. Note-se, numa cultura e sociedade machista e misógina, ser "guerreira" é um emblema que amalgama o veneno e o remédio de toda mulher. O canto de Clara flexiona essa destinação. Nesse sentido, "Clara, aqui, não se fixa, mas desloca-se constantemente entre a profusão de elementos que compõem sua vida pessoal e sua carreira", escreve Giovanna. Para a autora, na obra de Clara "as diferenças não desaparecem, não são subtraídas, mas somam-se em um todo complexo, sempre mutável e, por isso mesmo, vivo e potente". Sendo intérprete, Clara Nunes coassinou na voz e no corpo as canções de compositores de diversas expressões, mas mais evidentemente o samba, esse ethos em que nossos tabus são totemizados. GUERREIRA é disco, é adjetivo e é livro, verte-se em significante da cantora que, "no auge de seu domínio vocal e interpretativo", cantou e viveu os versos "Dentro do samba eu nasci / Me criei, me converti / E ninguém vai tombar a minha bandeira". Bandeira da fé na festa que Giovanna Dealtry tão bem analisa e nos re-apresenta.

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