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07 julho 2024

Mar paraguayo


Ao tratar daquilo que chamou de “tradição de uma fala delirante na cultura brasileira”, da qual o diretor José Celso Martinez Corrêa fazia parte, Ericson Pires observou que “a ideia de fala delirante é construída a partir da percepção de uma série de ressonâncias e tunelamentos entre obras e autores dentro da produção artística e cultural brasileira que apresentam, no caráter delirante, uma parte pulsional da obra/vida” (ver livro Zé Celso e a Oficina-Uzina de corpos). Isso nos ajuda a pensar também a literatura de Gregório de Matos, Sousândrade, Oswald de Andrade, Guimarães Rosa, José Agrippino de Paula, Haroldo de Campos, Caetano Veloso, Jorge Mautner, Wilson Bueno - todos autores que lidam com o delírio sonoro da palavra escrita no Brasil, experimentando materialidades fônicas, a partir da coloquialidade e da prosódia do país. MAR PARAGUAYO é ótima partilha do sensível disso. "(...) y esto es como grafar impresso todo el contorno de uno cuerpo vivo en el muro de la calle central", diz a voz narrativa a certa altura dando a chave daquilo que ela realiza em dicção multilíngue. Wilson Bueno coloca o leitor à deriva, como a voz que confidencia: "(...) añaretã, añaretãmeguá, com mucho miedo, los confidencio, a vos, lectores invenctivos, mas invenctivos que la invención de mi alma cautiva de estos derrames, de estos exageros de tangos y guarânias harpejadas dolientes in perfecta soledad a la margen de los lagos ô de las montañas, a vos, que me descifraron en outra dimensión, a vos confidencio: hay una duda, una gran duda, morangú, que me persegue por la casa e toda vez me pone, como já expliquê, me pone al rastro del infierno (...)". É essa vida em estado de delírio o que MAR PARAGUAYO nos faz experimentar.

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