A professora Lucia Helena é dessas pessoas que podem, sem pejo, dizer "quando cheguei aqui era tudo mato". O "aqui", no caso, é a "vida acadêmica". Desde o radical e luminoso, porque ensaia resposta à pergunta "como pode um brasileiro encontrar-se consigo mesmo?", sob o título "A solidão tropical: o Brasil de Alencar e da modernidade", até textos sobre autores mais contemporâneos, passando pelo incontornável "Nem musa nem medusa: itinerários da escrita em Clarice Lispector" e o "A cosmo: agonia de Augusto dos Anjos" (acho que o primeiro que li, por se tratar de escritor meu conterrâneo), todos são livros de referência, partem de hipóteses originais, antecipam muito do que ainda hoje é mote de teses e cursos nas Letras. Destaco TOTENS E TABUS DA MODERNIDADE BRASILEIRA: símbolo e alegoria na obra de Oswald de Andrade porque, além de ser o resultado da tese de doutorado da professora Lucia Helena, acabo de orientar uma dissertação sobre o poeta modernista e a releitura deste livro está fresca na mente. Concordemos ou não com suas reflexões, a "vitalidade ensaística" da autora, como destaca o professor Eduardo Portella na Apresentação, é inspiradora e demonstra o equilíbrio entre rigor e afeto com que devemos enfrentar criticamente o corpus literário, a "secura anti-lírica e paródica" do homem do pau-brasil. Sem medo, nem esperança, a voz ensaística de Lucia Helena tem uma certa liberdade que hoje nos falta na "vida acadêmica" pautada pela produtividade acrítica.
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