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09 julho 2023

Forma e formação


Quando dois mestres conversam, a escuta do aprendiz é fundamental para a formação deste. É meu gesto durante a leitura e releitura de FORMA E FORMAÇÃO, livro resultado de uma conversa sobre a canção popular entre Luiz Tatit e Luís Augusto Fischer. Dois dos maiores pensadores disso que "não tem governo, nem nunca terá", mas que, por isso mesmo, guarda um gaio saber estimulador à reflexão, à crítica: s canção popular. Cada um a seu modo, Fischer e Tatit vêm desenvolvendo ao longo do tempo instrumentos que mais potencializam do que esquematizam a canção. Professores universitários, ambos ensinam a criar brechas nos muros da academia, pois tensionam "o mundo mais empírico com o mundo das abstrações e teorias", como escreve o não menos mestre mediador da conversa Guto Leite. FORMA E FORMAÇÃO passa em revista mais de três décadas de dedicação à linguagem artística mais popular do Brasil. "Havia uma espécie de comunhão da nossa vida cotidiana com aquela geração de cancionistas, que nos explicavam o mundo e nos educavam esteticamente", diz Fischer. "Lá por 1968-1969, saiu a primeira edição de Balanço da Bossa do Augusto de Campos. Para mim, a leitura dele foi fundamental para perceber como a canção poderia ser um objeto de reflexão", diz Tatit. Da formação individual ao debate sobre a "forma canção", o livro atravessa a história recente do país. Note-se: o livro é obra do Núcleo de Estudos da Canção da UFRGS, o que reforça a força dos desdobramentos do trabalho dos mestres. Se "de tudo se faz canção", como dizem Milton, Lô e Márcio, quem faz da canção objeto de trabalho precisa "atender ao mundo orecular" com um rigor específico - passar da fruição à reflexão. Com a generosidade dos mestres que são, Tatit e Fischer partilham as estratégias e os procedimentos para fazer isso.

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