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04 junho 2023

Eu. E. Cummings


Com poemas cantados de Ana Carolina a Zeca Baleiro, talvez não seja exagero dizer que Edward Estlin Cummings está na boca do brasileiro. e. e. cummings compõe o paideuma dos poetas concretos, assim como os procedimentos dos poetas concretos são referências importantes para a poesia de Paulo de Toledo. Também tradutor, Toledo se utiliza do conceito de transcriação para nos re-apresentar cummings, poeta traduzido por Augusto de Campos, vide o livro "40 poem(a)s". Desse modo, o livro EU. E. CUMMINGS brinca com essa ciranda de (auto)referencialidades extra, intra e intertextuais do poeta e da poética cummingsiana. Usando sua notável verve irônica de matriz oswaldiana, Toledo inscreve a si quando reescreve cummings. "Além do jogo de palavras com o nome de cummings, o título foi motivado por ser um livro de um 'amador', de um tradutor não-especialista, de alguém que faz porque ama. Daí o 'Eu' do título se refere à relação afetiva entre o tradutor - que há mais de 20 anos tenta verter para o português a 'tortografia' cummingsiana - e o genial poeta", lemos na apresentação. As soluções transcriativas são eficazes e destacam a dificuldade da "tortografia" e a beleza da poesia singular, com seu lirismo moderno, carregado de pesadelos: "and is it dawn / the world / goes forth to murder dreams" fixa-se "e é o alvorecer / o mundo / se encaminha para sonhos assassinos"; ou "-after which our separating selves become museums / filled with skilfully stuffed memories" fixa-se "-após o que nossos eus separados tornam-se museus / repletos de memórias habilmente empalhadas". A autodeclara não-especialidade de Paulo de Toledo permite a ele experimentar as palavras aglomeradas, os eus urbanos de cummings, suas inquietações: "to hell with literature / we want something redblooded" fixa-se "pro inferno com a literatura / queremos algo que pingue sangue". E não é isso que a literatura quer? "something authentic and delirious" [algo autêntico e delirante]? Isso o livro EU. E. CUMMINGS nos dá.

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