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08 outubro 2023

Polipoesia


POLIPOESIA é livro que ilumina o que não tem governo, nem nunca terá: a performance poética. Exatamente por isso, pela insubmissão da singularidade (alguém - perigosamente - fala) que a performance vocal realiza, e isso diz muito da história da literatura, há uma dificuldade de análise, de apreciação, de entendimento, de instrumentalização do que seja "performance". Enzo Minarelli enfrenta o problema da poesia fora do livro, "em sua força plena e absoluta", investigando interpretações, promovendo audições (o livro vem com um CD, esse objeto já em desuso). Para Enzo Minarelli, "a voz em performance é a essência de muitas vozes: é a voz autêntica, arquétipo, xamã oriundo das profundezas do corpo, de um corpo além, voz metafísica, ontológica, uma voz sempre dialética, uma voz crítica em sua entidade social, eletrônica em sua intermidialidade, natural e artificial, sopro bucal regenerador e deformador, voz aleijada, fluxo fonético como fala divina, aceita sem contestação, voz régia, voz superior, em sua singularidade, voz vital, força utópica". Como lidar com essa potência, com essa multidão que alguém falando engendra? Poeta que experimenta o que pensa, Minarelli se une a um coro dissonante que vem a longo tempo abrindo o ouvido, revocalizando o logos sistematicamente emudecido em nossa cultura grafocêntrica: Paul Zumthor, Mikhail Bakhtin, Luiz Tatit, Philadelpho Menezes, Adriana Cavarero, Ruth Finnegan, Ricardo Aleixo. Com tradução, comentários e posfácio de Frederico Fernandes, POLIPOESIA é um convite à tensão entre presença (pathos) e memória (ethos) na era da reprodutibilidade técnica de poemas, entre as poéticas da voz no século XX.

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