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06 outubro 2024

Retorno a Reims


Autor do importante livro "Reflexões sobre a questão gay", em RETORNO A REIMS Didier Eribon expõe o périplo - a transformação da vergonha em orgulho - que fez do menino filho de operário um dos intelectuais mais respeitados em sua área. Gay e trotskista de formação, Eribon passa em revista todas as contradições internas dessa tensão. Observando o que fez a "esquerda deixar de ser esquerda", ou seja, o aburguesamento da classe operária (e classe é o mote do livro, ao lado da sexualidade), ele escreve: "devo confessar que o marxismo a que aderi durante meus anos de estudo, assim como meu engajamento esquerdista, não eram talvez mais do que uma maneira de idealizar a classe operária". E, mais adiante: "Raramente se fala dos meios operários, mas, quando se fala, é em geral porque se saiu deles e se está feliz de deles se ter saído, ele é reinstalado na ilegitimidade social daqueles sobre quem se fala no momento em que se deseja falar deles, precisamente para denunciar - mas com uma distância crítica necessária, e portanto com um olhar avaliador e ajuizador - a posição de ilegitimidade social à qual eles são incansavelmente remetidos". Eribon fala da França, mas poderia estar falando de Brasil. RETORNO A REIMS nos lembra que, sim, classe determina quem pode ter acesso ou não aquilo que a cultura determina como "desejo". "Eles desejavam ardentemente possuir todos os bens de consumo do momento", escreve sobre os pais; "a pretexto de renovar o pensamento de esquerda, trabalhavam para apagar tudo o que fazia da esquerda a esquerda", escreve sobre notários intelectuais neoconservadores. A autocrítica atravessa o livro, Didier Eribon revela os métodos de seu autoaburguesamento, método replicado, por exemplo, por Édouard Louis. E propõe: "A tarefa que cabe aos movimentos sociais e aos intelectuais críticos é portanto: construir cenários teóricos e modos de percepção políticos da realidade que permitam, não eliminar - tarefa impossível -, mas neutralizar o máximo possível as paixões negativas operantes no corpo social e especialmente nas classes populares; oferecer outras perspectivas e assim esboçar um futuro para aqueles que poderiam se designar, novamente, de esquerda". Se é impossível retornar, é urgente refundar(-se).

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