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03 janeiro 2011

Rainha do Egito

Lançada em 1976, no disco Mil e uma noites de Bagdá, a canção "Rainha do Egito", de Jorge Mautner, recebeu uma gostosa releitura feita por Márcia Castro em Pecadinho (2007).
A versão de Márcia, uma cancionista lúcida e apaixonada pela canção, mantem e confirma o tom debochado, porém a um grau abaixo da versão de Mautner, que destrona o fantasma épico e a historiografia linear, para coroar e apontar uma genealogia (uma eterna, cíclica e circular criação) do humano.
É deste modo que o sujeito de "Rainha do Egito" compõe seu pecadinho: tomar para si delirantes significantes que, na história, desenham a "verdadeira" rainha de lá. Enquanto o sujeito daqui é "cartomante de esquina" e "bailarina de um cabaré".
Com mira e suingue tropicais (um ouvido nos sambas, frevos e batuques; e um ouvido nas disposições eletrônicas atuais), além de uma voz singular, Marcia Castro afetada e é afetada pelo desbunde do hipertropicalista Jorge Mautner: homenageia-o e recoloca-o na genealogia sempre em progresso da canção popular.
Cheia de charme, a voz de Márcia dá vida ao sujeito-rainha-diaba: "Sou uma dessas meninas que namora a lua e o sol (...) Porque o ser humano, seja homem ou mulher é uma eterna criação", diz. Márcia investe em gestos vocais que sensualizam os mitos cantados e põe o ouvinte para dançar: "Tudo menina, menino jóia dançando".
A introdução grandiloquente logo dá início ao nosso dengo brejeiro, praieiro e tropical. Aliás, importa perceber, como apontei acima, que na interpretação de Márcia há menos melancolia do que na versão de Mautner. O que ilumina outros sentidos da canção: outras intenções do sujeito. Afinal, seja como for, o que o sujeito quer é fazer da barra pesada que sempre está chegando mais um motivo de alegria, festa e fé na dança das certezas.




***

Rainha do Egito
(Jorge Mautner)

Sou a rainha do Egito
Sou a filha do faraó
Sou uma dessas meninas
Que namora a lua e o sol

Sou cartomante de esquina
Sou bailarina de um cabaré
Sou uma dessas meninas
Que anda descalça e a pé

Me mandando pela louca madrugada
Com um cigarro aceso em cada mão
Porque o ser humano, seja homem ou mulher
É uma eterna criação

Posso te beijar agora
Pro zig zag poder ir embora
Posso te beijar agora
Pro zig zag poder ir embora

É a barra pesada que está chegando
É a barra pesada que está chegando
Tudo menina, menino jóia dançando
Tudo menina, menino jóia dançando

2 comentários:

Natival disse...

Alô Leonardo! Muito obrigado pela disposição. E muito sucesso no novo blog. Você sempre escreve muito inteligentemente. Parabéns! Vou colar lá no blog ainda essa semana. Tenho certeza que ela e quem acessar vão gostar muito.

Desde o 365 que queria ver sua impressão sobre essa canção. O que Mautner escreve é sempre intrigante e merece ser pensado. Eis que a oportunidade chegou.

Saquei a sua nova proposta de trabalho e gostei muito. Conte comigo para o que precisar.

Mais uma vez, sucesso!

Beijo!

Henrique Oliveira disse...

E gosto também dos seus leitores.
Parabéns por mais essa empreitada.

Abraço