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11 agosto 2024

Haroldo de Campos Transcriação


Entre os incontornáveis textos de Haroldo de Campos que Marcelo Tápias e Thelma Médici Nóbrega reuniram em HAROLDO DE CAMPOS TRANSCRIAÇÃO destaco "tradição, transcriação, transculturação". Nele Haroldo pensa "o ponto de vista do ex-cêntrico", afirmando que "a literatura brasileira nasceu sob o signo barroco" da "expropriação, reversão, desierarquização" e marcada por "complicado quimismo em que já não é possível distinguir o organismo assimilador das matérias assimiladas". Isso se espraia ao longo dos tempos e de várias formas. Por exemplo, "Machado de Assis não representa um momento de aboutissement, mas sim um momento de ruptura. Seu nacionalismo não é mais o nacionalismo ingênuo de certos românticos de aspirações ontológicas, mas um nacionalismo 'crítico', 'em crise', dilacerado, em constante diálogo com o universal". Haroldo está interessado naquilo que também interessava Hélio Oiticica (em entrevista a Ivan Cardoso), a saber: "O artista só pode ser inventor, senão ele não é artista". Inventar é devorar criticamente suas referências. Daí o conceito de transcriação haroldiano estar na mesma clave semântica da antropofagia crítica de Oswald de Andrade, no que se refere ao trato da língua e da linguagem polilíngue do Brasil. "A politópica e polífônica civilização planetária está, a meu ver, sob o signo devorativo da tradução lato sensu. A tradução criadora - "a transcriação" - é a maneira mais fecunda de repensar a mímesis aristotélica, que marcou tão fundamente a poética do Ocidente", escreve Haroldo. E nisso o Brasil pode oferecer experiência e prática.

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