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01 janeiro 2023

Ahô-ô-ô-oxe


O título do livro AHÔ-Ô-Ô-OXE, de Amador Ribeiro Neto, é o resultado da condensação trans-barroca e da montagem eisensteiniana entre a “voz de sereia longínqua chorando, cha-mando” da “Ode Marítima” de Álvaro de Campos – “Ahô-ô-õ-õ-ô-ô-ô--ô-ô-ô-ô-ô - yyy...... / Ahô-ô-õ-õ-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô - yyy......” – e a interjeição nordestina “ôxe”. Público e íntimo. Amplidão e microesfera. Língua Portuguesa e Nordeste. Pátria e região. Mar aberto e porto seguro. Todos aliados à Paraíba que abriga o poeta e fornece elementos à sua poesia sem cais. É o caso do “apôi / nordestino” do poema “zen-pessoense--paulistano”. O poeta trabalha naquilo que a linguagem tem de mais material: a presentificação não convencional das letras sobre a página, seu desenho, sua arquitetura. O sentimento drummondiano do mundo permeia essa poesia em sua recusa à autorreferencialidade vulgar, na criação de um “eu retorcido” figurativizado nas palavras quebradas e nas torções mórficas e semânticas do verso. Talvez seja “corpo a corpo consigo” o poema que melhor sintetize as filigranas proliferadas ao longo do livro AHÔ-Ô-Ô-OXE. Cito: “quebrar / o // aparta / mento // de fora / de dentro // quebrar o / pensamento / sem lógica / com muito // (confina) feri (mento)”. É essa “lição augusta” (título do derradeiro poema do livro), essa “despauesia”, essa “poundesia”, esse ala-la-ô-ô-ô carnavalizante da língua, o que caracteriza AHÔ-Ô-Ô-OXE. Além da voz da sereia, Amador Ribeiro Neto ouve a voz da musa e, como um privilegiado dessa audição musal possível ape-nas aos poetas, oferece ao leitor sua “canção transnordestina”, sua contra interpretação do mundo resultante do corpo a corpo da/na linguagem.

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