Desde o Projeto 365 Canções (2010), o desafio é ser e estar à escuta dos cancionistas do Brasil, suas vocoperformances; e mergulhar nas experiências poéticas de seus sujeitos cancionais sirênicos.
29 outubro 2023
Finas flores
O livro FINAS FLORES trata das mulheres letristas na canção brasileira. Jorge Marques elenca Adriana Calcanhotto, Fátima Guedes, Dolores Duran, Joyce, Maysa e Rita Lee, sem esquecer de citar Chiquinha Gonzaga, entre outras, e investiga a palavra e o acorde feitos por mulheres no Brasil, esse "país de cantoras", como diz o adágio popular. Porém, de "poucas letristas". "E pra que palavras / se eu não sei usá-las?", pergunta ironicamente uma canção de Adriana Calcanhotto. Se, "cada uma palavra é a minha vida / cada acorde é um pedaço de mim", como diz a canção de Joyce, coube ao autor de FINAS FLORES interpretar o que significou a tomada de voz dessas mulheres, historicamente silenciadas, ou, pior, destinadas à função de musas para/por homens. "Ser mulher é ter o poder de gerar vida", diz o primeiro verso do poema de Gilka Machado. E é essa vida gerada que o autor investigar, esse ser e estar mulher no mundo, na perspectiva que cada letrista poetiza em suas obras. "Mulher é desdobrável. Eu sou", diz outro poema, de Adélia Prado. Ao final da leitura do livro, percebemos o trabalho minucioso realizado por Jorge Marques: a singularização de variadas dobras, de diversas poéticas lidas/ouvidas. Quem lê FINAS FLORES ouvindo as canções, descobre novas frestas, faz descobertas. "O cânone se impõe porque seleciona: determina aqueles(as) que fazem parte e aqueles(as) que não fazem parte da fina flor. Relaciona, limita e, por conseguinte, exclui", conclui o autor, lançando luz sobre o que urge revelação.
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