Vira e mexe releio, cito, indico o livro O HOMEM QUE AMAVA RAPAZES E OUTROS ENSAIOS, de Denilson Lopes. Há nesse livro vários nós ainda hoje não devidamente desatados no debate acadêmico, e que Denilson diagnostica e faz encaminhamentos para lá de pertinentes. Talvez o mais importante: o enfrentamento teórico, crítico e ensaístico da (tropical) melancolia. "O indivíduo é uma construção e não dado inerente ao humano", lemos no primeiro parágrafo do texto "Terceiro manifesto camp", em que trata do desafio do sujeito contemporâneo para "articular suas máscaras em constante troca, seu eu mutante, sem se deixar dissolver no puro movimento, na velocidade, no mercado de imagens". É inspirador ver Denilson, por exemplo, ensaiando uma tradução de "camp" para nós: "Enquanto comportamento, o camp pode ser comparado à fechação, à atitude exagerada de certos homossexuais, ou simplesmente à afetação. Já enquanto questão estética, o camp estaria mais na esfera do brega assumido, sem culpas, tão presente nos exageros de muitos dos ícones da MPB, especialmente o culto a certas cantoras e seus fãs". Essa formulação nos ajuda a entender a cultura popular midiatizada brasileira desde, pelo menos, a Tropicália, no "influxo da contracultura nos anos 1960". Pensar a "fechação", a "estetização do social" enquanto categoria ético-estética brasileira é desafiador e fascinante. Aqui a fechação "aparece como uma estratégia corrosiva da ordem, no momento em que políticas utópicas e transgressoras parecem ter se esvaziado de qualquer apelo, e para os que não querem simplesmente aderir à nova velha ordem global do consumismo, em que a diferença é oferecida a todo momento, em cada esquina, em cada propaganda". São muitos os momentos luminosos de O HOMEM QUE AMAVA RAPAZES E OUTROS ENSAIOS. Findo novamente citando Denilson Lopes: "Por mais que a solidão, a melancolia, a violência e o desamparo persistam, não é tarde demais. Não estamos também no começo. Este nós de que participo mas não represento".
Desde o Projeto 365 Canções (2010), o desafio é ser e estar à escuta dos cancionistas do Brasil, suas vocoperformances; e mergulhar nas experiências poéticas de seus sujeitos cancionais sirênicos.
22 outubro 2023
O homem que amava rapazes e outros ensaios
Vira e mexe releio, cito, indico o livro O HOMEM QUE AMAVA RAPAZES E OUTROS ENSAIOS, de Denilson Lopes. Há nesse livro vários nós ainda hoje não devidamente desatados no debate acadêmico, e que Denilson diagnostica e faz encaminhamentos para lá de pertinentes. Talvez o mais importante: o enfrentamento teórico, crítico e ensaístico da (tropical) melancolia. "O indivíduo é uma construção e não dado inerente ao humano", lemos no primeiro parágrafo do texto "Terceiro manifesto camp", em que trata do desafio do sujeito contemporâneo para "articular suas máscaras em constante troca, seu eu mutante, sem se deixar dissolver no puro movimento, na velocidade, no mercado de imagens". É inspirador ver Denilson, por exemplo, ensaiando uma tradução de "camp" para nós: "Enquanto comportamento, o camp pode ser comparado à fechação, à atitude exagerada de certos homossexuais, ou simplesmente à afetação. Já enquanto questão estética, o camp estaria mais na esfera do brega assumido, sem culpas, tão presente nos exageros de muitos dos ícones da MPB, especialmente o culto a certas cantoras e seus fãs". Essa formulação nos ajuda a entender a cultura popular midiatizada brasileira desde, pelo menos, a Tropicália, no "influxo da contracultura nos anos 1960". Pensar a "fechação", a "estetização do social" enquanto categoria ético-estética brasileira é desafiador e fascinante. Aqui a fechação "aparece como uma estratégia corrosiva da ordem, no momento em que políticas utópicas e transgressoras parecem ter se esvaziado de qualquer apelo, e para os que não querem simplesmente aderir à nova velha ordem global do consumismo, em que a diferença é oferecida a todo momento, em cada esquina, em cada propaganda". São muitos os momentos luminosos de O HOMEM QUE AMAVA RAPAZES E OUTROS ENSAIOS. Findo novamente citando Denilson Lopes: "Por mais que a solidão, a melancolia, a violência e o desamparo persistam, não é tarde demais. Não estamos também no começo. Este nós de que participo mas não represento".
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