28 julho 2024

Por entre traços e cores


No texto "Eu nunca quis pouco: as capas de Caetano Veloso" (ver livro "Lamber a língua: Caetano 80"), Aïcha Barat  pergunta-se "qual relação Caetano cria com suas capas ao longo de sua carreira? Como elas ecoam seu projeto artístico e por que elas são terreno fértil para se refletir sobre sua obra?". Essas perguntas podem ser levada para a obra de outros artistas da canção brasileira. É o que faz Aïcha Barat noutros textos e na tese de doutorado, mas também Delzio Marques Soares no seu livro POR ENTRE TRAÇOS E CORES, em que analisa "a retórica do design nos lps da Tropicália". "Quais recursos argumentativos foram empregados no projetos gráficos de cada uma dessas capas?", pergunta-se Delzio. Com base na Retórica do Design Gráfico, o autor desenvolve argumentações luminosas para as "capas-embalagens" enquanto extensão do projeto estético-cancional de discos fundamentais de nossa história da canção. Depois de pertinente revisão bibliográfica sobre retórica, argumentação e linguagem visual, Delzio ilumina a importância da visualidade como parte fundamental da comunicação ético-poética da Tropicália. As cores vibrantes, os ícones pops, Gil de fardão da ABL, Caetano emoldurado por bananas, serpente e ninfa, a indumentária dos mutantes, os anúncios da liquidação de Tom Zé, a pose melancólica de Nara, o tropicaos de Druprat e o jardim de inverno de "panis et circencis" entram em rotação na leitura crítica de Delzio. "É nesse sentido que me propus analisar as capas dos sete álbuns tropicalistas: tornando-as como discursos, inventariando seus recursos argumentativos como resultado de um projeto de Design, para poder confrontá-los com esse ethos tropicalista", escreve e executa o autor de POR ENTRE TRAÇOS E CORES, livro que nos ajuda a compreender a Tropicália enquanto projeto verbivocovisual.

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