22 janeiro 2023

Bem-vindos os bárbaros

  

"Olho por muito tempo o corpo de um poema / até perder de vista o que não seja corpo", escreveu Ana Cristina Cesar. "Tem dias evito o poema / como um velho conhecido / à fila do pão", escreve Moama Marques, no livro BEM-VINDOS OS BÁRBAROS, logo depois de escrever "A rebelião consiste em olhar / muito tempo / o corpo de um poema / até perder-se de vista". Nesse processo de fazer o leitor perder (perdendo-se) de vista tudo o que seja "método", técnica, artifício, Moama passa em revista seu paideuma - de Antígona a Duras, de Ariadne a Hilst, de Penélope a Ana Martins. A poética de BEM-VINDOS OS BÁRBAROS forja uma voz brejeira (doce) e bárbara (cruel), embaralhando essas características, seja nas torções semânticas, seja na re-apresentação do cotidiano, seja nas fanopeias luminosas - reivindicando em cada referência literária a literatura (o "filete de sangue") que se inscreve em cada poema. Se em sua “cartilha da cura” Ana C. anotou que “as mulheres e crianças são as primeiras que desistem de afundar navios”, em sua "cartilha dos muros (1)", Moama Marques afirma que "As mulheres e as crianças são as primeiras e derrubar muros". Essa presentificação do lido é marca do livro, atravessa seus poemas, que mais parecem cintilações, vagalumes. Ler é reler(-se). "Rematriar", sugere Moama Marques - com forma e força. Façamos!

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