Resenha escrita via whatsapp pelo grupo
de pesquisa POESIA
E TRANSDISCIPLINARIDADE: A VOCOPERFORMANCE para o texto “As três vozes da
poesia”, de Thomas Stearns Eliot.
Ao
estipular três "vozes" para a poesia, Thomas Stearns Eliot
classifica: a primeira, não-dramática, como aquela que fala para si mesmo e
mais ninguém, ensimesmada, que "expressa os pensamentos e as emoções do poeta"
(p. 133); a segunda, quase dramática, como a voz "que se dirige a uma
plateia"; e a terceira como a voz dramática, a voz que subsome no
personagem, o qual passa a cantar a partir de seu próprio universo, malgrado
este tenha sido criado pelo poeta; ou seja, ocorre a partir da comunicação de
personagens imaginárias criadas pelo poeta para recitar seus versos, como
acontece nas peças de Shakespeare. Essas personagens constroem um mundo no qual
o criador está presente em toda parte, e em toda parte oculto (p. 139), pois uma
personagem quando está no palco não pode dar a impressão ao público de que está
ali apenas como uma porta-voz do autor da obra.
Aparentemente,
as três vozes elencadas por Eliot correspondem aos três gêneros clássicos: o
lírico, o épico e o dramático. Contudo, ao longo da leitura do texto fica
evidente que a questão é mais ampla, transpassando velhos debates teóricos,
menos unívocos, sobre intenção/vontade e recepção estéticas. A distinção entre
a primeira e a segunda voz seria o que conduz ao problema da comunicação
poética, ou seja, a diferença entre o poeta que cria uma linguagem na qual as
personagens imaginárias falam entre si, marcando para o problema de diferenciação
entre o verso dramático, quase-dramático e não-dramático.
Como o autor
eventualmente afirmará, não é o caminho ideal, por mais didático que este seja,
buscar a existência independente dessas vozes. Eliot está interessado em
refletir sobre a natureza da voz poética. Além da coexistência das vozes, elas
não existem como categorias opositivas, mas sim na forma mais harmônica de
degraus ou estágios da feitura poética. Assim seguiria o processo de criação:
de um primevo momento de gestação, quando o poema se encontra em
estado-dicionário ou ainda anterior a isto, pura potência conceitual, e ainda
está agrilhoado às raias da consciência de seu criador, passando pela fase em
que adquire linguagem, tornando-se discurso; até o canto/publicação, quando o
poeta delega sua autoridade ao sujeito lírico, sua persona poética. Poderíamos dizer
que o poeta se sacrifica para dar à luz sua persona ou seus personagens, mas
Eliot nos mandou deixar o autor em paz.
T.S.
Eliot chega à conclusão de que existe diferença entre poemas escritos para
serem lidos e declamados e os que são escritos para o palco (p. 124). Ele
destaca ainda a diferença entre o fazer poético sob encomenda daquele para
satisfazer a si próprio. Além disso, o verso produzido para um coro não era o
mesmo que aquele desenvolvido para uma pessoa (p. 125). É preciso não somente
atentar aos propósitos do texto, mas também às vontades e potências de cada uma
das "vozes" presentes em um discurso. Ou seja, mesmo destrinchando as
recorrências, os arquétipos, a voz e o estilo, no fim das contas, a sua unidade
pode mesmo se resumir à sua identidade, o nome que vincula toda a sua produção:
do poeta. Qualquer poema, pessoal, épico ou dramático, tem mais de uma voz a
ser ouvida (p. 136-137). O poema, mesmo pessoal, não é só para o autor, nem é o
autor. No poema dramático, ouve-se a voz dos personagens, e muitas vezes, a voz
do autor junto com a de alguns deles (p.137).
Para Eliot, a poesia
tem um "propósito social consciente", pretende divertir ou instruir,
contar uma história, pregar ou sugerir uma moral, uma sátira, também forma de
doutrinação, remetendo à poesia épica, de Homero, que se destina a um público;
e o drama, a uma plateia (p. 132). Ele considera o poema lírico como de segunda
voz (p. 132-133). Na análise de um poema, ressalta que tentar explicá-lo é
tomar cada vez mais distância dele (p. 135).
ELIOT, Thomas Stearns. “As três vozes da
poesia”. In: De poesias e poeta.
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