Sons de 2017. TRÊS. "Capitães da areia" é uma das canções mais
sinestésicas deste ano. Já nos versos da "Intro" - "As luzes da cidade,
batuque, tiro, gemidos, briga é um caos tão bonito" - temos cheiros,
visões, escutas e toques que impregnam todo o disco "Esú" de Baco Exu do
Blues (Diogo Moncorvo). Os versos "Somos argila do divino mangue / Suor
e sangue / Carne e agonia / Sangue quente noite fria" sintetizam a
pretendida e brilhantemente executada harmonização (ruidosa e libertária)
entre bem e mal - essas condições complementares (não opostas) do
Humano. Isso se dá na incorporação de cânticos (ancestrais) de domínio
público ao rap (contemporâneo). De fato, o rapper e o cantador popular
se cruzam naquilo que a oralidade tem de transmissão de um saber
corporal/experimental não domável pela/na escrita. (Mário de Andrade e
Jorge Amado, citados na canção, que nos digam). Aliás, é neste
entre-lugar que Exú - a voz que fala por trás da voz que canta - é e
está: na encruzilhada ética e estética, na travessia. "Vi os prédios
subindo / A mata acabando / Aproveitei e arranhei o céu / (...) / Onde
cidadãos de bem queimam terreiros / E espancam mulheres, odeiam os
pretos / Odeiam o gueto, matam por dinheiro / Eu sou caos, eu sou
vilão", afirma.
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