04 fevereiro 2024

Mangue mundo


No livro MANGUE MUNDO: POÉTICAS DO MANGUE EM JOSUÉ DE CASTRO, JOÃO CABRAL DE MELO NETO E CHICO SCIENCE Francisco K ensaia uma educação pela lama presente na convergência dos homens-caranguejo do escritor, médico, nutrólogo, cientista social e geógrafo; com os homens-lama do poeta; e os mangueboys e manguegirls do cancionista. Os textos de K equilibram a densidade do rigoroso trabalho de leitura e audição com uma linguagem direta. Para compor o que chama de "poéticas do mangue" K analisa a dialética de acaso e controle, caos e ordem presente (inscrita) na linguagem das obras de Josué, Cabral e Science. A fome - este tabu - é um topos guia das especulações do autor. Naturalismo, idealismo, metáfora e aspectos sócio-econômicos afirmam as margens. K investiga os núcleos moles do centro capitalista perverso. Núcleos sugeridos, de modo mais ou menos engajados, no romance, na poesia, na canção (na performance). A leitura que Francisco K faz do percurso da metáfora na poesia cabralina já mereceria a atenção para MANGUE MUNDO. Mas há mais. Se Josué de Castro chamou atenção para a fome "que corrói silenciosamente inúmeras populações do mundo"; e em seu tríptico do mangue (do Capibaribe) João Cabral tratou do cão vivo debaixo da pele; Science, sem estilizar ou folclorizar o material tradicional sonoro, nem a fome, engendrou um pacto corporal com o mangue: limite e expansão, caos e cão nas "fronteiras nos jardins da razão". O livro de Francisco K é este elogio urgente e revigorante do "corpo sensível-pensante", do "pensar que se faz juntamente com o sacolejo jubiloso do samba".

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