26 novembro 2023

As duras penas


Tive o privilégio de ler AS DURAS PENAS - O ÍNDIO NA LITERATURA E A LITERATURA INDÍGENA quando ainda era a tese de doutorado de Lívia Penedo Jacob. Tendo merecidamente recebido o Prêmio Capes de Tese, o livro reúne 10 ensaios sobre representação e autorrepresentação da alteridade indígena, esse conceito guarda-chuva de algo que não tem governo, nem nunca terá, de uma singularidade prismática impossível de ser apreendida pelos filtros iluministas e românticos que ainda hoje se impõem no debate acadêmico em torno da ética e da estética na literatura. Outrossim, "enquanto a antropofagia pretendida por Oswald e Mário de Andrade buscava a miscigenação cultural, deglutindo e ruminando inclusive a escrita etnográfica, assistimos, na atualidade, à participação efetiva dos povos originários nesse fazer poético", escreve a autora. Unimúltiplo, o conceito "indígena" (e seu implícito "índio") é abordado por Lívia enquanto revelação daquilo que, não por ser exótico, é o óbvio; é nós. Para tanto, o foco na oralidade é fundamental. Desprezada por certa linha da Academia, exatamente porque impossível de ser domada, domesticada, civilizada, a pesquisa em torno da oralidade faz do livro AS DURAS PENAS, com toda ambiguidade que esse título sugere, uma referência à compreensão do gaio saber. Destaque-se o manejo de perspectivas e o diálogo estabelecidos com diversos e diferentes autores canônicos e de hoje.

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