13 agosto 2023

Uma literatura antropofágica


No livro "Verdade tropical" (1997), Caetano Veloso escreve que "(...) são poucos os momentos na nossa história cultural que estão à altura da visão oswaldiana. Tal como eu a vejo, ela [a ideia do canibalismo cultural] é antes uma decisão de rigor do que uma panaceia para resolver o problema de identidade do Brasil. A poesia límpida e cortante de Oswald é, ela mesma, o oposto de um complacente 'escolher o próprio coquetel de referências'. A antropofagia, vista em seus termos precisos, é um modo de radicalizar a exigência de identidade (e de excelência na fatura), não um drible na questão". Em alguma medida, é exatamente isso que a professora Lucia Helena antecipa e investiga no livro UMA LITERATURA ANTROPOFÁGICA (1982), ou seja, a autora responde o que o adjetivo significa, sem drible no tabu da "dependência cultural". Tomando a antropofagia enquanto ethos da nossa literatura e vertente de nossa cultura, Lucia Helena mapeia e analisa a poesia atribuída a Gregório de Matos, a poesia de Augusto dos Anjos e Mário e Oswald de Andrade (além dos manifestos e do teatro desse, e do Macunaíma daquele), a fim de defender a antropofagia enquanto dicção carnavalizante nossa, muito nossa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário