Desde o Projeto 365 Canções (2010), o desafio é ser e estar à escuta dos cancionistas do Brasil, suas vocoperformances; e mergulhar nas experiências poéticas de seus sujeitos cancionais sirênicos.
13 agosto 2023
Uma literatura antropofágica
No livro "Verdade tropical" (1997), Caetano Veloso escreve que "(...) são poucos os momentos na nossa história cultural que estão à altura da visão oswaldiana. Tal como eu a vejo, ela [a ideia do canibalismo cultural] é antes uma decisão de rigor do que uma panaceia para resolver o problema de identidade do Brasil. A poesia límpida e cortante de Oswald é, ela mesma, o oposto de um complacente 'escolher o próprio coquetel de referências'. A antropofagia, vista em seus termos precisos, é um modo de radicalizar a exigência de identidade (e de excelência na fatura), não um drible na questão". Em alguma medida, é exatamente isso que a professora Lucia Helena antecipa e investiga no livro UMA LITERATURA ANTROPOFÁGICA (1982), ou seja, a autora responde o que o adjetivo significa, sem drible no tabu da "dependência cultural". Tomando a antropofagia enquanto ethos da nossa literatura e vertente de nossa cultura, Lucia Helena mapeia e analisa a poesia atribuída a Gregório de Matos, a poesia de Augusto dos Anjos e Mário e Oswald de Andrade (além dos manifestos e do teatro desse, e do Macunaíma daquele), a fim de defender a antropofagia enquanto dicção carnavalizante nossa, muito nossa.
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