Márcio Bulk
- O que é canção para você?
Um depoimento, um diálogo em que o
discurso, se apropriando da escrita, a transcende e a complexifica ao adicionar
elementos melódicos, rítmicos e harmônicos. A forma mais potente e fecunda de
relato. A minha ferramenta mais cara para perceber e lidar com o mundo.
- De onde vem a canção?
Dos meus pais, dos meus avós, dos meus bisavós, dos meus tataravós, do afeto.
- Para que cantar?
Dos meus pais, dos meus avós, dos meus bisavós, dos meus tataravós, do afeto.
- Para que cantar?
Para transcender, para dar sentido
às coisas, para tornar mais tolerável essa vida de Jó.
- Cite 3 artistas que são referências
para o seu trabalho. Por que estes?
Juro que fiz de tudo para não ser
óbvio, porém: Chico Buarque, Ella Fitzgerald e Portishead. Faltam diversos e importantes nomes nessa lista (escritores,
compositores, cantores e etc.), mas como você me pediu apenas três...
Como letrista, Chico Buarque é a
minha pedra filosofal. Sempre que fico inseguro quanto ao meu trabalho, eu o
ouço/leio. Mais do que me inspirar, essa ação me traz um enorme alento. É como
se fosse um afago, um "relaxa que tudo vai dar certo, moço".
Costumo dizer que Ella Fitzgerald é
Deus com voz de pudim de leite e colo de vó. Para mim, a maior voz de todos os
tempos, sempre.
Portishead foi a banda que me deu o norte artístico. Quando ouvi "Sour
Times" pela primeira vez fiquei besta: o arranjo era lindo, havia
elementos de música eletrônica, Beth Gibbons possuía uma voz claramente
influenciada pelas cantoras de jazz e, por fim, cantava “...nobody loves me,
its true / Not like you do”! Ou seja, impossível não pensar em Nora Ney
cantando “Ninguém me ama, ninguém me quer / Ninguém me chama de meu amor”. Ali,
tudo se costurou e, décadas depois, me permitiu desenvolver o conceito do EP “Banquete”.
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