09 abril 2015

O que é canção? Márcio Bulk

Márcio Bulk

- O que é canção para você?
Um depoimento, um diálogo em que o discurso, se apropriando da escrita, a transcende e a complexifica ao adicionar elementos melódicos, rítmicos e harmônicos. A forma mais potente e fecunda de relato. A minha ferramenta mais cara para perceber e lidar com o mundo.

- De onde vem a canção?
Dos meus pais, dos meus avós, dos meus bisavós, dos meus tataravós, do afeto. 

- Para que cantar?
Para transcender, para dar sentido às coisas, para tornar mais tolerável essa vida de Jó.

- Cite 3 artistas que são referências para o seu trabalho. Por que estes?
Juro que fiz de tudo para não ser óbvio, porém: Chico Buarque, Ella Fitzgerald e Portishead. Faltam diversos e importantes nomes nessa lista (escritores, compositores, cantores e etc.), mas como você me pediu apenas três...
Como letrista, Chico Buarque é a minha pedra filosofal. Sempre que fico inseguro quanto ao meu trabalho, eu o ouço/leio. Mais do que me inspirar, essa ação me traz um enorme alento. É como se fosse um afago, um "relaxa que tudo vai dar certo, moço".
Costumo dizer que Ella Fitzgerald é Deus com voz de pudim de leite e colo de vó. Para mim, a maior voz de todos os tempos, sempre.
Portishead foi a banda que me deu o norte artístico. Quando ouvi "Sour Times" pela primeira vez fiquei besta: o arranjo era lindo, havia elementos de música eletrônica, Beth Gibbons possuía uma voz claramente influenciada pelas cantoras de jazz e, por fim, cantava “...nobody loves me, its true / Not like you do”! Ou seja, impossível não pensar em Nora Ney cantando “Ninguém me ama, ninguém me quer / Ninguém me chama de meu amor”. Ali, tudo se costurou e, décadas depois, me permitiu desenvolver o conceito do EP “Banquete”.

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