O sujeito de "Outra canção tristonha", de Thiago Pethit, começa a canção fazendo uma promessa: "Dessa vez eu vou tentar sorrir / Nem que seja só pra constatar que eu não consegui". A promessa é cumprida ao longo da tristíssima canção: há um tênue traço (feito a giz) de esperança atravessando a tristeza da separação.
A singularidade de "Outra canção tristonha", entre tantas canções tristonhas que ouvimos nestes tempos de identidades fluidas e de amores líquidos, está no lugar exato em que a canção confessa seu empenho e fracasso.
Metacanção, "Outra canção tristonha" investiga suas próprias filigranas, desdobra-se para dentro, percorre as fibras sonoras que lhe constituem. Letra e melodia se equilibram: cordas, piano e percussão trabalham juntos para complexificar o estado do sujeito, da voz que canta.
Guardada no disco Berlim, Texas (2010), a canção ensaia um movimento de análise e exposição dos motivos que levam o indivíduo contemporâneo a ainda querer (e precisar) cantar. Se de Berlim a Texas tudo está cartografado e, apesar das promessas de moderna felicidade, há tanta dor fotografada, por que (e para que) cantar?
Sentimental demais, o sujeito se responde apontando a vitalidade, a urgência e a necessidade da canção. Mesmo tristonhamente, cantando o sujeito manda a tristeza embora e "se acaso um estranho vier perguntar / Eu finjo que engasguei que engoli o ar". Cantar é fingir, é dar um drible na dor.
Cantando a despedida naquela estação, naquele aeroporto, o sujeito sustenta o encontro: mantém o outro presente, aqui. A lógica geográfica que separa Berlim e Texas é suspendida e os espaços são deslocados: "E mesmo assim você não estará pra ver eu tentar sorrir assim sem jeito em meio à multidão", diz o sujeito triste e consolado no canto que entoa.
A singularidade de "Outra canção tristonha", entre tantas canções tristonhas que ouvimos nestes tempos de identidades fluidas e de amores líquidos, está no lugar exato em que a canção confessa seu empenho e fracasso.
Metacanção, "Outra canção tristonha" investiga suas próprias filigranas, desdobra-se para dentro, percorre as fibras sonoras que lhe constituem. Letra e melodia se equilibram: cordas, piano e percussão trabalham juntos para complexificar o estado do sujeito, da voz que canta.
Guardada no disco Berlim, Texas (2010), a canção ensaia um movimento de análise e exposição dos motivos que levam o indivíduo contemporâneo a ainda querer (e precisar) cantar. Se de Berlim a Texas tudo está cartografado e, apesar das promessas de moderna felicidade, há tanta dor fotografada, por que (e para que) cantar?
Sentimental demais, o sujeito se responde apontando a vitalidade, a urgência e a necessidade da canção. Mesmo tristonhamente, cantando o sujeito manda a tristeza embora e "se acaso um estranho vier perguntar / Eu finjo que engasguei que engoli o ar". Cantar é fingir, é dar um drible na dor.
Cantando a despedida naquela estação, naquele aeroporto, o sujeito sustenta o encontro: mantém o outro presente, aqui. A lógica geográfica que separa Berlim e Texas é suspendida e os espaços são deslocados: "E mesmo assim você não estará pra ver eu tentar sorrir assim sem jeito em meio à multidão", diz o sujeito triste e consolado no canto que entoa.
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Outra canção tristonha
(Thiago Pethit)
Dessa vez eu vou tentar sorrir
Nem que seja só pra constatar que eu não consegui
E mesmo assim você não estará pra ver
Eu tentar sorrir assim sem jeito em meio à multidão
Cada vez mais longe você vai ficar de saber
Se há motivos pra eu cantar
Ou só pra fazer
Outra canção tristonha, sentimental, sobre você
Se acaso um estranho vier perguntar
Eu finjo que engasguei que engoli o ar
Tiro o pensamento fora de órbita
Invento um circo ou outro lugar
Pois quando for a hora de eu me despedir
Quando o avião partir
Eu vou saber
(Thiago Pethit)
Dessa vez eu vou tentar sorrir
Nem que seja só pra constatar que eu não consegui
E mesmo assim você não estará pra ver
Eu tentar sorrir assim sem jeito em meio à multidão
Cada vez mais longe você vai ficar de saber
Se há motivos pra eu cantar
Ou só pra fazer
Outra canção tristonha, sentimental, sobre você
Se acaso um estranho vier perguntar
Eu finjo que engasguei que engoli o ar
Tiro o pensamento fora de órbita
Invento um circo ou outro lugar
Pois quando for a hora de eu me despedir
Quando o avião partir
Eu vou saber
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